Poucas pessoas sabem que o grande clássico “O Exorcista” de 1973 teve duas sequências, sendo a primeira delas um curioso filme que conta com Linda Blair (novamente0) e Richard Burton, que juntos executaram aos olhares de John Boorman um dos filmes mais contestados e menos assistidos da história do cinema e das sequências sem sucesso.
O primeiro filme “O Exorcista” é inegavelmente uma obra prima do terror, feito já com um orçamento relativamente baixo e sendo uma verdadeira aula de como produzir-se um filme de horror. William Friedkin deu alma ao filme, sendo o diretor escolhido após o próprio John Boorman recusar ao posto.
Se no primeiro filme pode-se notar uma forma linear de expor as ideias, numa condução quase que ao estilo de documentários, Borrman muda tudo para o segundo, coloca uma singularidade sem igual, passando para um subjetivismo incrível, dando até tons expressionitas em dados momentos do filme.
Agora para entendermos melhor os dois filmes, uma breve síntese de O Exorcista, um dos maiores clássicos da história do cinema!
O Exorcista – Clássico de 1973
Este é um filme inconstestável, dirigido por William Friedkin, escrito por William Peter Blatty e protagonizado por atores como Jason Miller, Max Von Sydow, Ellen Burstyn e Lee J. Cobb. Trata-se de um filme de 132 minutos, localizado em Georgetown, que busca levar ao espectador os horrores sofridos pela jovem Regan, muito bem interpretada por Linda Blair (atriz coadjuvante).
Nesta primeira trama, Chris e sua filha Regan vivem tranquilamente, até que a filha começa a sofrer com problemas psiquiátricos graves, que logo são constatados talvez como uma dupla personalidade, carecterizando-se posteriormente como uma possessão demoníaca, em que fica atribuída a função de diagnóstico ao padre Karras, que abalado após a morte de sua mãe, tem na fé uma incógnita muito grande, não tendo total certeza sobre sua vocação para o clero. Para ajudar o padre Damien Karras, é convocado o Padre Merrin, que já tendo contato anteriormente com o demônio Pazuzu, assume o exorcisto e parte ao trabalho.
Neste primeiro filme o orçamento não foi alto, algo que pode ser notado claramente, pois ele foi muito mais desenvolvido na criatividade e na inteligência, trazendo métodos inovadores para a cena do terror. As atuações são muito bem executadas, sem grandes falhas. Linda Blair aparece como uma jovem e inocente atriz, mostrando seu real talento, algo que lhe trouxe muita repercussão.
O orçamento de “O Exorcista” é de 12 milhões de dólares, considerado um orçamento pequeno/médio para a época.
O Exorcista II – O Curioso Caso de 1977
Após o primeiro filme, uma onda de aparições do gênero foram acontecendo, com filmes semelhantes e se aproveitando do desejo do público por mais se afirmando na cena, a Warner não poderia deixar de fisgar sua migalha no meio disso. Para tal missão tentou recrutar seu diretor de sucesso, recebendo um belo não de William Friedkin, seguido de William Peter Blatty e Ellen Burstyn.
Ainda antes do segundo contato com John Boorman, que incrivelmente havia recusado o primeiro filme, considerando-no um filme vulgar ao mostrar o sofrimento de uma jovam garota, a Warner até chegou a especular o grande Stanley Kubrick, que não se envolveu com nada parecido até o sucesso O Iluminado de 1980.
Tendo essas negativas, a aposta foi sobre John Boorman, que realmente buscava se reerguer e topou o sucesso fácil que um nome destes poderia vender. Ao seu lado vieram William Goldhart e Richard Lederer na produção e roteiro. Sobre a produção, Lederer é claro
Nós queríamos essencialmente fazer nessa sequência uma repetição do primeiro filme, teria uma figura central, um padre investigativo, entrevistando pessoas envolvidas com exorcismo e utilizando ângulos não vistos. Seria um remake em baixo orçamento do original, com objetivo de se aproximar do modo como foi feito. Foi assim que começou – Afirmou Richard
Porém ao longo da produção as coisas foram mudando muito rapidamente, principalmente pelo fato de Boorman querer dar um tom diferente a obra, um tom mais subjetivo.
Linda Blair já não era mais tão inocente, na realidade não era mais nada inocente, já passando de promissora atriz a um “sex symbol” americano, passando a demonstrar mais um apelo sexual e já tendo o início dos seus problemas com drogas, álcool e festas. Blair aceitou participar desta grande jogada, entretanto disse que não usaria novamente aquela pesada maquiagem do primeiro filme.
Queria-se William O’Malley como Padre Dyer para finalizar o tom de sequência, porém mais uma recusa, o que levou até o nome de Richard Burton, que já estava no seu auge de vício em álcool, algo que pode ter muito em comum com Linda Blair. Burton aparece como o Padre Philip Lamont.
Neste filme nada pode ser levado muito a sério, até mesmo pelo fato de James Earl Jones aparecer em uma cena vestido de gafanhoto humano. Após isso, o que mais poderia-se esperar?
Regan (Linda Blair) já é quase adulta, sua mãe apenas está viajando durante todo filme, sua antiga assistente, Sharon Spencer (Kitty Winn) aparece novamente, tendo uma atuação também muito curiosa, digna de mudanças de expressões engraçadas e olhares muito desconfigurados.
As coisas parecem ter se perdido um pouco, em que nota-se que todo mundo queria dar uma opinião e conduzir um pouco o filme, criando assim um ambiente confuso. Regan inicialmente não lembra de nada do exorcismo, fazendo análise numa espécie de ambiente futurista de Stanley Kubrick, comandado pela Dra. Gene Tuskin.
Padre Lamont fica responsável por investigar a morte de Padre Merrin, que surpreendentemente segundo está versão, morreu após o exorcismo, morto pelo demônio Pazuzu, algo um pouco (na verdade muito) contraditório em relação a primeira versão.
Neste momento a história de Padre Lamont e Linda Blair se unem, sendo eles muito ligados após uma sessão num aparelho psicanalítico de Gene Tuskin.
Após a conexão dos dois, muitas coisas acontecem, bem como o aparecimento corriqueiro de Pazuzu como um demônio do ar, as constantes mudanças radicais na condução, com sequências desconexas e problemas graves na elaboração dos diálogos.
A ideia do filme poderia até ser promissora em um primeiro momento, porém foi totalmente sabotada pela pressa em se lançar uma continuação e aproveitar o sucesso do primeiro filme. Linda Blair já não era mais aquela jovem, o roteiro não foi finalizado com nenhuma riqueza narrativa e o elenco parecia interessado mesmo em terminar de uma vez aquilo que foi uma das maiores vergonhas de John Boorman.
Mas não pense que tudo está perdido, o grande diretor Martin Scorsese, responsável por grandes clássicos e considerado um dos maiores diretores da história do cinema, gostou muito do filme, considerando ele até mesmo superior ao primeiro.
O filme coloca a pergunta: será que grande bondade pode trazer sobre si grande mal? Isso remonta ao Livro de Jó, é Deus testando o bem. Neste sentido, Regan é um santo moderno. Eu gosto do primeiro exorcista, por causa da culpa católica, e porque ele assustou o inferno fora de mim, mas o herege supera. Talvez Boorman não tenha conseguido executar o material, mas o filme ainda poderia ser melhor do que ficou – Escreveu Scorsese
Por fim afirmamos: Se você gosta de O Exorcista, assista as suas sequências, sendo possível até mesmo amar o segundo filme como Scorsese. Geralmente sua conclusão final será sobre como o filme conseguiu sair desta forma dos trilhos, mas enfim, um filme que deve ser assistido por quem gosta de cinema. Linda Blair, Richard Burton, Ennio Morricone e James Earl Jones, o que você faria de diferente com um elenco destes?!