Nos primeiros minutos do filme Central do Brasil, dirigido por Walter Salles, apenas o rosto de uma mulher é focado, enquanto ela dita uma carta para Dora, a personagem de Fernanda Montenegro. Esta mulher é ninguém menos que Socorro Nobre, cuja história inspirou a criação do filme.
Ex-presidiária, Socorro cumpriu pena na Bahia após ser presa no final dos anos 80. Ela se apaixonou por um homem que planejou um assalto, e após a morte de uma vítima, Socorro acabou sendo condenada como cúmplice, passando pelas cadeias de Ilhéus e Itabuna.
Quando chegou ao presídio de Salvador, ela começou a redigir cartas para as outras presas, que eram analfabetas. Em entrevista à Folha de São Paulo em 1999, Socorro revelou que começou a fazer aquilo pois se inspirou nos tempos em que ajudava a mãe, que também era analfabeta.
Sete anos após sua prisão, ela teve contato com uma reportagem sobre o artista polonês Frans Krajcberg, e se interessou por sua ideologia. Com isso, ela escreveu uma carta para ele, e os dois começaram a se corresponder. Curiosamente, o artista, que faleceu em 2017, era amigo de Salles, e lhe contou a história.
Com isso, ele conheceu Socorro e sua tocante história, que inicialmente foi transformada em um documentário que leva o nome da mulher em 1995. Contudo, 3 anos depois, Salles decidiu homenageá-la através de Central do Brasil, que é um verdadeiro marco do cinema nacional.
“Socorro Nobre”: enredo e onde assistir ao documentário sobre a inspiração de Central do Brasil
No documentário Socorro Nobre, Walter Salles narrou a troca de correspondências entre Socorro, que cumpria pena em uma prisão para mulheres em Salvador, e Franz, um artista polonês atormentado que perdeu sua família, mas sobreviveu ao Holocausto.
O artista se mudou para o Brasil em busca de uma nova vida, em contato com a natureza, e passa a viver sob uma nova ideologia. Ideologia esta que se torna assunto de uma matéria que chega nas mãos de Socorro, e a faz sonhar novamente.
A produção de Salles foi estrelada por ela e outras presidiárias de Salvador, e durante os anos seguintes, serviu como a base para a produção de Central do Brasil. O documentário não está disponível para streaming, mas é possível encontrá-lo em redes sociais como o Facebook.