Slasher: Sub-gênero ou revolucionário?
O século XX, podemos dizer que foi “o” século da virada. O modo como vemos as coisas, a vida corrida e o cotidiano exagerado da nossa geração, deve tudo aos cem anos passados. Não seria diferente com o cinema, graças à invenção dos irmãos Lumiére o fim de noite é garantido com um bom filme, principalmente se for de terror.
Uma década para mudar, outra para aproveitar.
Até a década de 50, os filmes de terror eram românticos, apresentando ao seu telespectador monstros apaixonados por mocinhas indefesas. Em plena guerra fria (1945-1991), corrida espacial (1957-1975) e Beatles (1960-1970) a década de 60 conseguiu colocar um fim no moralismo exacerbado, a inocência chegava ao fim.
O gosto pelo terror crescia, as firulas de monstros românticos já não empolgavam mais, era a hora de ser mais real, de transformar figuras míticas em pessoas comuns ou a animais ferozes.
Fomos apresentados a filmes mais próximos da realidade, afinal o real sempre carrega mais medo. Psicose (1960), A cidade dos malditos (1960), Os Pássaros (1963), À noite dos mortos vivos (1968) e fechando com O bebê de Rosemary (1968), levou o terror a outro nível, mas todo esse realismo não bastava, as pessoas queriam mais.
Os anos 60 passaram e os 70 com seu amor livre revolucionário e o psicodelismo trouxe um gênero que até hoje é fórmula de sucesso: Slasher.
Nasce um sub-gênero
Slasher foi o nome dado a filmes com serial killers sanguinários, por que não bastava apenas matar, o público queria sangue escorrendo da tela. Tobe Hooper revolucionou o cinema com um novo conceito de filme, baseado no assassino real Ed Gein (1906-1984), que matava suas vítimas e usava sua pele como decoração e roupa, nasceu Leatherface ou cara de couro, do filme O massacre da serra elétrica (1974).
Thomas Hewitt, o insano Leatherface, nascido em uma família de loucos canibais, mata por matar, pela raiva, pela loucura e apenas para ver o sangue escorrer. Apesar de não ser o primeiro inspirado por Ed Gein, Leatherface foi o que mais chocou e transformando assim um gênero que hoje é ainda copiado.
Você pode me perguntar: Mas a partir de O massacre da serra elétrica, o slasher já foi considerado um gênero?
Não caro leitor, mas foi o mote para abrir um leque de infinitas possibilidades. Depois do sucesso estrondoso do filme, outros vieram para tentar ganhar seu espaço, e foi o caso de Black Christmas ou Natal Negro (1974) e Halloween-À noite do terror (1978).
O auge e a queda
O ápice do Slasher foi a década de 80 com a franquia Sexta-Feira 13 (1980), Dia dos Namorados Macabro (1981), Acampamento Sinistro (1983), A Hora do Pesadelo (1984) entre outros, que rechearam a imaginação de uma geração fissurada em terror.
Infelizmente o tema foi tão explorado, que ao final dos anos 80 ninguém agüentava mais ver tanta matança, usavam o mesmo roteiro para todos os filmes, os finais não surpreendiam mais, e então o Slasher adormeceu, dando lugar para filmes de artes marciais e ação futurista.
Entre em Pânico
Depois de alguns anos adormecido, o gênero retorna com um novo rosto. Ghostface transforma uma simples vingança em uma loucura de proporções gigantescas.
Agora a mocinha, que no meio do filme aos olhos curiosos da câmera se torna uma mulher, é guerreira e forte, não apenas luta por sua vida, mas transforma as perseguições em gosto de quero mais.
O segredo envolvendo a trama, as inesquecíveis regras para se sobreviver em um filme de terror, a sátira dos clichês usados em filmes anteriores, fizeram de Pânico (1996) uma obra prima dos Slashers. Wes Craven conseguiu revitalizar o gênero esquecido.
Renascimento e… Vemos tudo novamente
Graças a Pânico (1996) o terror em modo geral renasceu. Víamos inúmeros títulos nas prateleiras das locadoras transbordando abordagens novas.
Os fãs suspiraram aliviados, afinal quase dez anos sem grandes novidades. Mas o que era bom durou pouco.
Ao mesmo tempo em que franquias eram lançadas, os mesmos erros eram cometidos como no passado: mesmos roteiros, finais parecidos, mocinhas chorosas.
Não que fosse ruim, afinal tínhamos com o que nos entreter, mas enjoa e os fãs queriam mais como na década de 70.
Olá quero jogar um jogo com você
Um filme de baixo orçamento e com um roteiro incrível conseguiu o que nenhum outro slasher fez: Roteiro e trama envolvente, final surpreendente e franquia inigualável.
Saw ou Jogos mortais (2004) é o Slasher definitivo, pleno, sagaz e inteligente provando que nem sempre terror é um sub-gênero, um filme B de categoria inferior.
Jogos mortais conseguiu transpor a barreira do óbvio e Jigsaw consegue fazer você se apaixonar e entender seus motivos ao longo da franquia. O assassino burro agora não existe e ele não é assassino.
Jigsaw dá escolhas, que podem levar a morte ou não. Dependendo do que levou àquelas escolhas a personagem tem opções de ajudar, ser ajudado e sobreviver, matar ou morrer.
O futuro a Hollywood pertence
Os filmes refletem a situação atual e isso é um fato. Se na década de 50 o medo de ser atacado por alienígenas era recorrente, hoje o medo se torna real e é nosso vizinho.
Desde tiroteios em escolas a seqüestros de uma década, não podemos negar que os filmes passaram a mostrar o que acontece no nosso cotidiano.
Preferimos ver uma cena realista a um assassino fantasioso inexistente para padrões atuais.
É bom ter sempre em mente que quanto mais vemos a realidade na tela, menos nos choca e acaba nos tornando frios. Temos que tentar separar essa realidade assistida à realidade do dia a dia para assim, ter discernimento de saber o que é certo.
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esta escritora é excelente,gostei demais deste post.
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