A missão ousada de Jayme Monjardim de adaptar um dos maiores clássicos de Érico Veríssimo pode ser vista no cinema, com O Tempo e o Vento, que mostra a história de uma família, dividida em diversas fases de longos 150 anos, algo que rendeu diversos cortes e deu pouco tempo disponível para se explorar as diversas pequenas histórias em que a trama é dividida.
A história tem de partir de três capítulos e seis volumes, portanto era necessário Jayme pensar em algo para ligá-las e não deixar o desenvolvimento tão solto. Para o papel da ligação a muito bem escolhida foi Fernanda Montenegro, que comanda todo o ritmo, acompanhada de Thiago Lacerda.
Os “fade in/out” são constantes e acompanham diversos flashbacks que vão desde a história primária de Ana Terra (Cléo Pires) até Ricardo Amaral (José de Abreu).
Esses papéis históricos vão se desenvolvendo com a história da família, avançando num período de 150 anos, algo que torna essa adaptação ainda mais difícil, pois naquele momento em que o espectador está entendendo mais a fundo a história, temos um corte e parte-se para a próxima sub-trama, algo que acontece constantemente, o que alivia isso é a boa jogada de fotografia do filme, sendo que um dos focos da história é retratar um dos momentos da formação do povo gaúcho, portanto Monjardim explorou muito bem a beleza dos pampas, acompanhado de uma suave trilha sonora e a belíssima narração de sequências da experiente Fernanda Montenegro.
As atuações são boas, não pode-se negar isso, mesmo com os contantes cortes, o padrão de atuações foi alto, sim, diferenciando-se dos fracos lançamentos de humor pestelão que vem se fixando no cenário nacional. Mesmo que as atuações num geral sejam boas, o destaque fica para Fernanda Montenegro, um papel emocionante, muito bem feito, onde via-se um tom de sinceridade nas frases, seguida de Thiago Lacerda, que também teve muito boa atuação, de alto elegantismo.
Uma das grandes novidades também, foi a inovação feita no método de filmagem, sendo este, o primeiro filme no MUNDO a usar uma F-65 e ser finalizado com a tecnologia 4 K 16 bites, toda esse inovação de padrão hollywoodiano vem da escolha de Afonso Beato para as filmagens, ele que vem diretamente de Los Angeles com a mais alta tecnologia.
O resultado final é uma acoplação do estilo literário de Veríssimo, um momento histórico do RS e do Brasil e alto padrão de fotografia, acompanhados de boas atuações e uma história forte, porém que não consegue ser constante e em alguns momentos dispersa muito o público com a troca e desapego dentre os capítulos em que é imposta. Serve para quebrar o padrão brasileiro de filmes de humor que vem se estabelecendo, mas precisa melhorar, perder o tom de novela das seis e se tornar mais concreto.