Um dos maiores nomes da música brasileira, Zé Ramalho surgiu no Nordeste e acrescentou um lado único à MPB, distinto do Tropicalismo, de Caetano Velose e Gil, e da Jovem Guarda, de Roberto e Erasmo Carlos. O grande trunfo de sua carreira, talvez, seja a canção Avôhai.
Com um nome peculiar, a música fala da relação do artista com seu avô, que assumiu a posição de figura paterna em sua vida após a morte de seu pai. Durante algumas entrevistas, Zé Ramalho buscou explicar o termo e sua conexão com o avô. Mais do que isso, o compositor contou sobre seu passado no Nordeste.
“O meu avô era realmente um caçador e uma pessoa rigorosa na educação e criação de suas filhas, minhas tias. Elas ajudaram a me educar. Principalmente, a preocupação dele era colocar a família em contato com a possibilidade de estudarem. Era uma criação, além de rígida, muito católica. Adepto fervoroso de Nossa Senhora. Então toda semana havia uma reunião em que a família rezava e lembro de cada um ler um trecho da Bíblia. Por conta disso, passei muito tempo em Campina Grande sendo coroinha, ajudando na Missa, sabia metade da liturgia em latim.”
Em outra entrevista, Zé Ramalho explica que o título da música, propriamente dito, surgiu em meio a uma experiência com drogas alucinógenas. Foi durante a sua viagem psicodélica que o músico ouviu uma voz dizendo “avôhai”, termo que depois ele interpretou como uma união das palavras “avô” e “pai”.
Zé Ramalho fala do Nordeste e de Avôhai
Durante um de seus devaneios ao falar sobre seu avô durante uma apresentação de Avôhai, Zé Ramalho recordou seu passado na Paraíba e sua mudança para Campina Grande. Confira abaixo um trecho.
“[No Nordeste] tem um lado pesado, da miséria, da fome, da ignorância. A gente não observa isso quando é pequeno, mas quando cresce a gente lembra. Muitas pessoas deformadas no Sertão, com deformações que são expostas hoje nos programas da grande mídia. Ao mesmo tempo o Nordeste tem muita história, dizem que é o portão do inferno, por conta dos cangaceiros, do Antônio Conselheiro, Padre Cícero.. todas essas histórias levam muitas fantasias na cabeça do nordestino. Em Campina Grande, eu tive a primeira oportunidade de ouvir o rádio. Eram hinos […] e os primeiros indícios de uma pré-Jovem Guarda. Eu tocava, aprendi a tocar as músicas que ouvia. Toquei em vários grupos e ia para bailes.”