Se você acompanhou o material prévio divulgado de O Contador, deve imaginar um filme muito diferente em relação ao que é apresentado no cinema. Isso nem de longe é um fator negativo. Muitos filmes acabam surpreendendo positivamente, porém, não é o caso do novo longa de Ben Affleck.
O ator carrega algumas das falhas que cometeu em Demolidor (2003) e Batman (2016), criando um protagonista confuso e que não consegue comover e nem empolgar o público. A ideia base do filme é realmente interessante. Se O Homem Nas Trevas, mesmo com suas limitações, foi muito bem ao mostrar o mundo de um vilão cego, agora é a vez de explorar o universo dos autistas.
O filme acompanha a vida de Christian Wolff, criança autista que sofreu com a falta de estrutura familiar e que conseguiu se estabelecer como um grande contador. Trabalhando com alguns clientes suspeitos, Christian embarca em um trabalho que mexerá com sua regrada estrutura.
Ampliar a sinopse, seria invadir sua sessão. O que pode-se destacar, é que o começo empolga, com uma história pontual e linear, porém que se perde gradativamente ao transformar o protagonista em um herói implacável. As relações não são aprofundadas – com exceção do pai, que participa e deixa claro sua influência – e isso faz com que o público fique cada vez mais distante.
O preenchimento de lacunas é efetivo através das pontas soltas que são deixadas durante o terço inicial, no entanto, pela obviedade, acabam perdendo o efeito.
Como uma verdadeira colcha de retalhos, o filme apaga todas as impressões positivas que poderia ter deixado. O diretor Gavin O’Connor consegue criar boas cenas. Ben Affleck é esforçado, mas se perde no caminho (por algumas falhas típicas de suas atuações, no entanto, muito por influência do roteiro confuso) e o resultado final é um filme que poderia ser razoável, mas decepciona completamente.
Ah, a crítica diverge. Rubens Ewald Filho dá nota máxima e elege O Contador como um dos melhores do ano. Luiz Carlos Merten, no Estadão, diz ser o melhor trabalho de Affleck como ator. Na Folha, Alexandre Agabiti dá nota mínima, enquanto Mario Abbade, no O Globo, ressalta a condução confusa.