Durante a década de 80, o cinema nacional lançou algumas de suas maiores pérolas. Pixote, Cabra Marcada para Morrer e Eles Não Usam Black-tie chegaram aos cinemas, atraindo grandes atores americanos. Foi assim que O Beijo da Mulher Aranha assegurou William Hurt no papel principal ao lado de Sônia Braga.
O filme, dirigido por Héctor Babenco, é uma parceria brasileiro-americana, sendo produzido por David Weisman. O Beijo da Mulher Aranha estreou em Cannes e, além de ser indicado à Palma de Ouro, William Hurt venceu o prêmio de Melhor Ator.
Hurt, inclusive, foi o grande destaque do longa. O ator americano venceu os prêmios de Melhor Ator no Oscar e no BAFTA, a única vez que garantiu as premiações em sua vasta carreira. Já Sônia Braga garantiu uma indicação a Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro.
O Beijo da Mulher Aranha: William Hurt sequestrado em São Paulo
Porém, ao relembrar seu papel em O Beijo da Mulher Aranha, William Hurt não citou apenas sua vitória no Oscar ou os momentos com Sônia Braga. O ator recordou uma das situações mais tensas de sua vida ao ser sequestrado em São Paulo, após um período de gravações.
O filme teve cenas rodadas em pontos famosos de São Paulo, como o Minhocão, o Pátio do Colégio, a Praça da Sé e a estação Bresser-Mooca. Após um dos dias de filmagens, Hurt e sua então namorada brasileira estavam em direção à Grande São Paulo quando foram sequestrados.
“Fui feito refém em uma noite escura em um lugar ao sul de São Paulo. Tinha um cara com uma arma dentro do meu bolso. Ele ia explodir meus genitais. E então, depois de uma hora, ele nos disse para ficar de frente para a parede, e tínhamos certeza de que ele ia atirar em nós”, revelou Hurt.
O sequestro aconteceu logo após os dois chegarem na garagem dos pais da moça, já após às 00h. “Um dos caras tinha o rosto coberto por uma touca preta, o outro só tentava esconder o rosto. Eles provavelmente já estavam nos seguindo”, contou o ator.
Hurt ainda continuou, revelando que os assaltantes levaram todos os bens da casa de sua namorada. “Cheguei a pensar que o cara ia puxar o gatilho. Dava para ver as balas, não era um revólver falso. Eu e ele ficamos nos encarando por cerca de uma hora, dava para ver os olhos dele através da máscara.”
Ao final do assalto, os bandidos fizeram as vítimas virarem de costas e olhares para a parede. “Ele ia atirar em nós, então eu disse que não. Se eu fosse morrer naquele momento, queria estar olhando nos olhos de outro ser humano, mesmo que fosse o dele.”
Na época, o caso foi abafado pela produção de O Beijo da Mulher Aranha, em um esforço para evitar que o lançamento do filme fosse prejudicado. Hurt veio a falar sobre o caso apenas mais de vinte anos após as gravações.