De uma família de músicos, Simon Townshend não decepciona quando o assunto é versatilidade. Além de um exímio guitarrista, membro do The Who desde 1996, quando passou a tocar com o irmão Pete Townshend, Simon tem seu próprio estúdio, produz discos solo e tem parcerias com músicos como Eddie Vedder.
Em 2017, com a primeira turnê do The Who pelo Brasil, teremos também a primeira passagem de Simon pelo país. O músico inglês não esconde a expectativa destes shows e garante que o clima será incrível para o público. Em nossa conversa, falou também sobre os novos projetos, sua participação criativa no The Who e a possibilidade de um novo disco da banda.
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Entrevista: Leonardo Caprara
Traduções: Caudo Feitosa
Entrevista – Simon Townshend
Música e Cinema – Você vem de uma família de músicos e respira isso desde cedo. Quando e como foram seus primeiros passos neste universo?
Simon – Quando eu tinha 8 anos, queria uma guitarra de presente de Natal. Meu irmão Pete construiu uma pra mim com pedaços quebrados – remanescentes das suas excentricidades no palco. Era feita principalmente de partes de Fender, além de ser maior do que eu. Este foi o instrumento no qual eu aprendi os primeiros acordes e comecei minha própria jornada musical.
Música e Cinema – Seus álbuns trazem diversas referências, desde o rock até o pop. Quais são suas principais inspirações e influenciais na sonoridade?
Simon – Eu tenho muitas influências porque durante meus anos de infância e adolescência (final dos anos 60 no início dos anos 70) havia muita música incrível por aí. Estive dentro de “boa” música e haviam muitas.
Música e Cinema – Você tem seu próprio estúdio e o selo Stir Records. Isso lhe permite maior autonomia? Como conciliar o lado músico e o lado produtor?
Simon – A Stir Records foi criada em 1994 como algo feito exclusivamente para mim e para a minha música. Meu primeiro lançamento foi “Among Us”. Ter minha própria gravadora significava que eu poderia trabalhar livremente e não ser empurrado ou manipulado por gravadores e homens da A&R. Isso significava que eu poderia produzir minha própria música, o que era importante para
mim, pois não gosto de como o meu segundo álbum soa.
Música e Cinema – Em “Looking out Looking in” você lançou duas músicas em parceria com Eddie Vedder. Como foi esse trabalho?
Simon – Foi ótimo trabalhar com o Ed. Ele tem muita empatia com a minha música, visto que ele cresceu ouvindo-a junto com as músicas do meu irmão e do The Who. Ed dá tudo de si mesmo em tudo o que ele faz e quando estávamos juntos no estúdio, ele demonstrou esse compromisso comigo. Foi uma experiência incrível e espero que um dia possamos fazer algo novamente.
Música e Cinema – Suas letras mostram muita profundidade e parecem ser assuntos muito pessoais. Como funciona o seu processo de composição no que diz respeito a letras?
Simon – Eu não sou muito bom em inventar histórias, então eu trabalho com o que eu sei, minha vida e a vida das pessoas ao meu redor, amigos, família etc.
Música e Cinema – Com apenas 9 anos, você foi convidado para participar do “Tommy”. Como foi esse projeto e qual a importância para a sua carreira?
Simon – Foi um momento decisivo. A experiência de cantar com fones de ouvido e colocar minha voz em harmonia com as outras foi como descobrir ouro. Foi essa breve sessão de gravação que me encantou. Eu soube a partir desse momento que isso era o que eu queria fazer pro resto da minha vida.
Música e Cinema – Além de música, nosso site fala de cinema também. Você participou do filme “Tommy”, de 1975. Como foi esse trabalho? Qual a influência que o cinema exerce na sua carreira?
Simon – Eu era o jornalista. Eu cantei Extra Extra e Miracle Cure. Nós realmente filmamos algumas cenas extraordinárias, mas nenhuma foi usada no fim – atuar não é o meu forte. Atualmente, o cinema é uma das poucas fontes de renda para os músicos, portanto, há muita concorrência. Estou escrevendo constantemente pensando em algo para filmes.
Música e Cinema – Desde 1996 você faz parte do The Who. Como foi essa entrada e qual influência teve sobre sua carreira solo?
Simon – Para ser honesto, trabalhar com o The Who não influenciou tanto a minha carreira. Estávamos viajando muito e a música do meu irmão estava trancada na minha cabeça – todas essas coisas tão boas, então escrever minhas próprias canções era difícil. Acho que vou esperar o tempo de inatividade para começar o meu próprio processo de composição e gravação quando espairecer.
Música e Cinema – Com o The Who você participou da gravação de “Endless Wire”. Você esteve junto no processo de composição? Como foi esse primeiro trabalho de inéditas com o grupo?
Simon – Pete não escreve música com muita frequência. Eu nunca faço. Escrever para nós é um processo pessoal – provavelmente por que nossa música é muito íntima. Eu não fiz muitos instrumentais no Endless Wire, mas eu trabalhei bastante nos vocais. Foi um desafio porque o The Who tem um padrão alto para o que funciona e o que não funciona, o que fica e o que se passa.
Música e Cinema – Você e Pete são dois grandes compositores. Vocês trabalham em algo novo para o The Who ou separam seus processos criativos?
Simon – O The Who é bem-vindo para ver as minhas músicas, encontrar diamantes, gravar e ter muitos hits… No entanto, o The Who é sobre a música de Pete. O estilo dele é o dele, assim como o meu é o meu. Sua música é o que faz a banda ser o que ela é, enquanto minha música me faz ser o que eu sou. Embora eu gostaria de tentar, duvido que um dia aconteça a oportunidade de escrever para o The Who.
Música e Cinema – Atualmente, o que está mais próximo de acontecer: Um novo álbum solo de Simon ou um novo disco do The Who?
Simon – Estou trabalhando em um projeto chamado Dual Robot. Estou oferecendo downloads gratuitos no meu site pessoal Simontownshend.com do trabalho à medida que avança ao longo do ano. Isso envolve a combinação de versões acústicas e elétricas da mesma música tocada simultaneamente em Dual Mono, ao invés de estéreo. É realmente emocionante e me leva a algumas áreas excelentes que eu nunca trabalhei antes – principalmente em mono, o que é realmente desafiador.
No que diz respeito ao próximo álbum do The Who, eu sei que o Pete tem novas músicas e há uma grande chance de gravarmos em algum momento. Resta saber se isso irá concretizar.
Música e Cinema – Pete desde cedo esteve muito envolvido com a banda. Sua entrada para o grupo foi também uma reaproximação ou vocês sempre estiveram muito próximos?
Simon – Nós sempre fomos muito próximos, mesmo eu sendo 15 anos mais novo do que Pete. Ele sempre respeitou a mim e a minha capacidade musical. Pete sempre me deu presentes que me ajudaram ao longo do caminho: microfones, guitarras, amplificadores, kits de bateria etc. Ele me deu uma ARP Odyssey para o Natal quando eu tinha 15 anos.
Música e Cinema – Este ano será a primeira tour do The Who no Brasil. Você já tocou no nosso país? Qual sua expectativa? Já ouviu algo da música brasileira ou da cultura nacional?
Simon – Eu tenho uma ideia do que esperar no Brasil, embora eu nunca tenha passado por aí. Eu acredito que será ótimo para todos, a platéia ficará louca. Espero que seja a primeira de muitas visitas, pois eu adoraria passar algum tempo no país para descobrir a música e a cultura brasileira.
Música e Cinema – Muito obrigado por sua atenção. Lhe aguardamos mês que vem no Brasil! Por favor, deixe um recado para o público brasileiro:
Simon – Preparem-se… o The Who está vindo para arrasar. Muito obrigado!
The Who no Brasil
21/09 – São Paulo | Allianz Parque (Ingressos)
23/09 – Rio de Janeiro | Rock in Rio (Ingressos)
26/09 – Porto Alegre | Beira-Rio (Ingressos)
Interview – English
Música e Cinema: You came from a family of musicians and breath music since you were a child. When and how are your first steps in music?
Simon: When I was 8 years old I wanted a guitar for Christmas. My brother Pete built a guitar for me out of broken pieces – remnants of his on stage antics. It was mainly Fender parts and it was bigger than I was. This instrument was the one I used to learn basic chords and begin my own musical journey.
Música e Cinema: Your albums bring a lot of references, from rock to pop. Who are your main inspirations and influences?
I have so many influences because during my childhood and teen years (late 60’s early 70’s) there was so much incredible music around. I’m into ‘good’ music and there was plenty of it
Música e Cinema: You have your own studio and the Stir Records label. Does this give you more autonomy? How to reconcile the musician side and the producer side?
Stir Records was created in 1994 as an avenue solely for me and my music. My first release on the label was ‘Among Us’. Having my own label meant I could work freely and not be pushed or manipulated by record labels and A&R men. It meant I was able to produce my own music which was important to
me because I didn’t like the way my second album sounded.
Música e Cinema: In “Looking out Looking in” you released two songs in partnership with Eddie Vedder. How was that work?
It was great working with Ed. He has such an empathy to my music as he grew up listening to it, along with my brother’s and The Who’s music. Ed gives every ounce of himself into everything he does and when we were in the studio together he demonstrated this commitment to me. It was a joy and an amazing experience – I hope that one day we can do it again.
Música e Cinema: His lyrics show a lot of depth and seem to be very personal things. How does your lyrics creation process works?
I’m not too good at making up stories so I work with what I know, my life and the lives of people around me, friends, family etc.
Música e Cinema: At only 9 years old, you were invited to participate in “Tommy”. How was this project and what was the importance for your career?
It was a defining moment. The experience of singing under headphones and pitching my voice in harmony against others was like discovering gold. It was that brief recording session that hooked me. I knew from that moment it was what I wanted to do in my life.
Música e Cinema: In addition to music, our site speaks of cinema as well. You participated in the movie “Tommy”, 1975. How was that work? What influence does cinema have on your career?
I was the newsboy. I sang Extra Extra and Miracle Cure. We actually filmed some extraordinary scenes but none was used in the final cut – acting is not my forte.
These days cinema is one of the few main outlets for music, hence there is so much competition. I am constantly writing with view to placement in film.
Música e Cinema: Since 1996 you are part of The Who. How was this moment and what influence did it have on your solo career?
If I’m honest, working with The Who didn’t influence my career as much as slow it down. We were touring a lot and my brothers music was locked in my head – all such great stuff so writing my own music was difficult. I guess I wait for the down time and when my head clears I can begin my process of writing and recording.
Música e Cinema: With The Who you participated in the recording of “Endless Wire”. Did you were together with the band in the composition process? How was this first work with the group?
Pete doesn’t co write music very often. I never do. Writing for us is a personal process – probably why our music is so deep. I didn’t do too much instrumental work on Endless Wire but I worked on the vocals quite closely. It was challenging because The Who have such a high bar for what works and what doesn’t, what stays and what goes.
Música e Cinema: You and Pete are two great composers. Do you work together (or separatedly) on something new to The Who?
The Who are welcome to dig into my music and pull out the gems, record them and have many hits… thing is, The Who are about Pete’s music. His style is his own, as is mine. His music is what made the band what they are. My music makes me what I am. Although I would love to have a try I doubt the opportunity to write for The Who will ever surface.
Música e Cinema: Currently, what’s coming next: A new solo album by Simon or a new album by The Who?
I am working on a project entitled, Dual Robot. I’m giving away free downloads on my personal website Simontownshend.com of the work as it progresses through the year. It involves combining acoustic and electric versions of the same song played simultaneously in Dual Mono rather than stereo. It’s really exciting and taking me in to some great areas I’ve never worked before – mainly in mono which is really challenging.
As far as The Who’s next album, I know Pete has new songs and there is strong potential we’ll be recording at some point. It remains to be seen whether it will come to fruition.
Música e Cinema: Pete was very involved with the band from an early age. Was your entry to the group also a rapprochement, or were you always very close?
We’ve always been very close despite me being 15 years younger than Pete. He has always respected me and my musical ability. He would always give me gifts that helped me along the way: microphones, guitars, amplifiers, drum kits etc. He gave me an ARP Odyssey for Christmas when I was 15 years old.
Música e Cinema: This year will be the first tour of The Who in Brazil. Have you ever played in our country? What is your expectation? Ever heard of brazilian music or our culture?
I have an idea of what to expect in Brazil although I’ve never been there. I believe it is going to be an eye opener for everyone, the audience will go crazy. Hopefully it will be the first of many visits as I would love to spend time there to discover Brazilian music and it’s culture.
Música e Cinema: Thank you for your attention. We are waiting for you next month in Brazil! Please leave a message for the Brazilian public:
Get ready… The Who are coming to blow your mind.