Entrevista com a banda Noturnall – Sucesso do heavy metal nacional

O Música e Cinema teve o prazer de conversar com a banda Noturnall, uma das maiores sensações do cenário nacional de heavy metal. Formada por ex-membros do Shaman mais o baterista Aquiles “Polvo” Priester, o Noturnall chama muita atenção com seu disco de estréia, que marca uma das fases mais maduras dos experientes músicos.

O álbum de nome homônimo é total destaque da cena do heavy metal em 2014, rendendo ótimas avaliações e gerando um DVD ao vivo. São dez faixas de pura pegada, trazendo elementos progressivos que tornam a música um aglomerado de talento e boas composições. Confira a resenha completa do Música e Cinema clicando AQUI.

Banda Noturnall entrevista

A banda é formada por: Thiago Bianchi (Vocal), Léo Mancini (Guitarra), Fernando Quesada (Baixo), Junior Carelli (Teclado)  e Aquiles Priester (Bateria). Confira abaixo a entrevista completa, onde Fernando Quesada e Junior Carelli responderam as perguntas do Música e Cinema.

Entrevista com a banda Noturnall

Primeiramente é um grande prazer para o Música e Cinema. Sabemos que o Noturnall vem com ex-membros do Shaman acrescidos de Aquiles Priester e o posicionamento oficial é de que o Shaman está de férias. Como decidiram formar este grupo e quais os motivos de tornar esse projeto independente do Shaman? Essa separação foi algo semelhante a primeira do Shaman, ndo Andre, Hugo e Luis deixaram a banda?

Fernando Quesada – É um prazer poder falar com vocês. Sobre a primeira separação do Shaman, sinceramente pouco sabemos dos detalhes. Nunca entramos muito nesse assunto, pois são histórias que existem diversos pontos de vista, e, em minha opinião, quando não se sabe totalmente de algo, não se deve falar muito. Mas, enfim, o nosso caso foi um desgaste que rolou por conta de diferentes agendas, diferentes ideologias e diferentes caminhos e futuro que cada um esperava da banda. Para nós a estrada está apenas começando, e por isso decidimos ficar juntos e criar um projeto independente do Shaman, que traz, claro, toda a experiência que adquirimos nesses anos com uma banda tão grande, mas também traz toda a vontade e sangue novo de fazer algo diferente e algo que nos faça principalmente felizes, sem rixas, histórias mau contadas ou qualquer coisa que fale mais alto que a música.

Junior Carelli – Fala galera, é um prazer enorme estarmos juntos no Música e Cinema! Na história do Shaman eu fui o recém chegado, então pouco participei dessas intrigas iniciais, tive parte atuante na decisão, que por conta de agenda e viés, mudaram o rumo e fizemos o Noturnall.

Recebemos o CD e ficamos surpreendidos com algumas inovações em relação aos projetos antigos dos membros da banda, que mantiveram suas origens, mas criaram um projeto mais complexo. Trata-se de um trabalho mais maduro e complexo?

Fernando – Com certeza! Trata-se de um resultado de muitos anos de aprendizado. O Confessori foi um professor – em minha vida pelo menos – e o Shaman uma grande faculdade. O Noturnall agora é meu mestrado, e o próximo disco será o doutorado! (risos).

Junior – Com certeza é um trabalho que carrega uma carga de experiência e uma vontade de fazer algo novo que impulsionaram a musicalidade geral da banda. Foi muito suor e dedicação para a realização de tudo até agora.

Disco Noturnall

E sobre as temáticas das músicas, de onde tiram inspiração? 

Fernando – Eu e o Thiago, que iniciamos as composições, estávamos tirando inspiração das nossas próprias vidas. Sabe quando você vive alguma coisa que quer passar para as pessoas? Quer mostrar como se sente e o que tem guardado dentro de você? Era assim que nos sentíamos nessa questão da pausa do Shaman. Não sabíamos bem o que pensar, por onde caminhar, e por isso sentíamos angústia, muitas vezes raiva, às vezes um alívio e muitas vezes confusão. Disso resultou um disco pesado, complexo, mas que também traz momentos de suaves melodias. Como tudo aconteceu muito rápido, tem os bumbos na velocidade da luz para representar isso também. (risos)

Junior – As músicas vinham sendo feitas para o Shaman inicialmente, porém o Thiago e o Fernando mostraram o esboço inicial e eu e o Leo (Mancini – Guitarra) fomos compondo a forma final de algo que expressava um momento de decisão e energia, com temáticas fortes e atuais.  Aí o peso ficou escancarado.

Este primeiro CD já tinha algum material pronto antes da formação do grupo ou tudo foi feito em conjunto após a reunião do Noturnall?

Fernando – O material já estava inteiro pronto, com exceção da música “No Turn At All”, que estávamos finalizando quando o Aquiles entrou. Não só estava pronto, como também já estava gravado inteiro. Invertemos as fases e gravamos a bateria depois de todo o resto, inclusive da voz! Foi diferente, mas o resultado foi muito bom! Uma curiosidade é que este seria o novo álbum do Shaman e iria se chamar “Nocturnal”. Curioso, não? (risos)

Junior – Como disse… inicialmente era do Shaman! Então tínhamos tudo gravado e fomos adaptando com a entrada do Aquiles com elementos menos enraizados nos temas e frases andinas que o Shaman pedia, deixando a liberdade criativa rolar.

Vocês já começaram com muito sucesso, tendo boas avaliações e muita repercussão do ótimo trabalho que estão realizando. Como foi ter essa recepção no mercado e como enxergam a cena do metal nacional, principalmente para um som com uma pegada progressiva como o de vocês?

Fernando – Foi muito boa a recepção e ficamos muito felizes de termos o trabalho reconhecido, até mais reconhecido do que na época do Shaman. Eu vejo o cenário do metal nacional de uma maneira diferente. É um cenário que eu sei que é difícil! É difícil apoio financeiro, é difícil apoio de contratantes de shows e casas de shows, é difícil apoio de gravadoras e é muito difícil o apoio de mídias. Mas eu quero que tudo isso se dane, pois eu amo esse estilo e tudo vale a pena no final. Vamos sempre fazer o melhor trabalho possível e tentar sempre dar o melhor para as pessoas se sentirem bem. Esse é o nosso trabalho e para isso tocamos nossos instrumentos e usamos a nossa voz. Para cantar algo difícil para um meio difícil, e assim fazer tudo valer a pena.

Junior – Uma vez me disseram: se fosse fácil todo, mundo fazia… se fosse perto, todo mundo chegava… Então fechamos os olhos para todas adversidades que encontramos nessa fatia da música e fazemos com muito amor e garra, sem se preocupar com a proporção que vai tomar, esperando o melhor, mas fazendo porque é um som que vivemos e curtimos. E pronto!

Hoje a internet é favorável para uma banda que está começando (em questão de divulgação e interação) ou atrapalha muito com a pirataria?

Fernando – A internet, ao mesmo tempo que é favorável para a divulgação, também considero desfavorável para a própria divulgação. Ao mesmo tempo que é de certa maneira “fácil” de se divulgar na internet, você fica ao lado de mais mil outras bandas se divulgando da mesma maneira, e, portanto, é difícil ter credibilidade e realmente quebrar a barreira entre as pessoas ouvirem e consumirem o seu som. Ouvir é diferente de consumir. E essa barreira, uma simples divulgação na internet não quebra. É preciso trabalhar muito bem a internet, mas não só a internet. É preciso trabalhar bem uma agenda de shows, lançamentos de produtos e por aí vai. Enfim, acho a internet um meio válido de apoio, mas que te ajuda e sozinha não resolve. Quando é usada sozinha, pode até ser desfavorável.

Junior – Agrega com certeza, o problema é que agrega para todos, então precisa saber trabalhar todas as áreas, não só internet. Mas a internet é um meio que deve ser explorado com certeza, indispensável ter um trabalho on-line. Porém de qualidade. Aí acho que é o erro de algumas bandas.

Temos no Brasil milhões de pessoas que gostam de diversas vertentes do rock e elas continuamente parecem ignoradas pela grande mídia, como vêem essa situação?

Fernando – Eu tive o prazer de trabalhar em uma grande agência de publicidade que trabalha com grandes marcas em grandes veículos. O dinheiro que rola dentro da grande mídia é absurdo, e a compra de interesses também. A questão é que hoje não temos grandes marcas interessadas no estilo, que podem ajudar a “comprar” a mídia. Nada entra na mídia porque é bom. Nada entra na mídia por merecimento. Tudo é comprado em um grande jogo de interesses. Às vezes existem algumas exceções em grandes canais de televisão, rádios e revistas, e vamos aproveitando como podemos. Como eu disse anteriormente, nosso sonho é quebrar essa barreira e poder quebrar essa dificuldade, mas infelizmente não vai só do que queremos. Mas, com certeza, iremos aproveitar todas as brechas e lutar o máximo que der! Adoraria acordar e ver notícias sobre rock ‘n’ roll e ver uns cabeludos nas colunas sociais! (risos)

Junior – Tem público mesmo, mas sabemos que são números desinteressantes para a grande mídia que quer mesmo atingir a massa geral, que na maioria curte o que é simples e digerível e dançante, coisas que acho que o metal não se enquadra. (risos)  Então a mídia financia através das grandes corporações o que vai vender pra mais gente. O publico do metal acaba dependendo de esforços extras sempre.

Russell Allen participou bastante deste primeiro trabalho da banda. Como ocorreu essa parceria e o que ela agregou à sonoridade e qualidade do CD?

Fernando – Russell é O CARA! Fizemos uma amizade muito legal que não foi só para um disco. Vai ficar para os próximos, shows e com certeza vamos anunciar algumas tours juntos ainda. Ele agregou muito, principalmente em despertar o monstro que existia dentro do Thiago. É de arrepiar ouvir os dois cantando juntos.

Junior – Ele canta absurdos! Casou mundo bem com o timbre do Thiago! Conhecemos ele no famigerado festival do Maranhão. E mantivemos contato direto após isso, sugerimos de ele gravar uma faixa, que virou clipe, que virou a produção, que virou participação no DVD. Ele é um cara muito legal e participativo, foi uma experiência singular todo o processo.

Vocês gravaram o primeiro DVD, intitulado “FIRST NIGHT LIVE”, onde inclusive já divulgaram as gravações da música “Hate!”, onde conseguiram manter um padrão semelhante ao de estúdio e ainda acrescentar uma calorosa participação do público. Como foi esta noite e o resultado do trabalho completo do DVD?

Fernando – Essa noite foi memorável! Tudo! Estrutura, casa, equipe, colegas, público! Tudo! Vocês vão poder conferir no DVD que a energia era demais e que conseguimos traduzir isso nas filmagens. Junior Carelli e Alex Baptista mandaram muito bem no vídeo e fizeram a emoção permanecer, mesmo que fosse nas lentes das câmeras. Se a câmera pudesse chorar, certeza que teria derrubado lágrimas. (risos)

DVD Noturnall
DVD Noturnall

Junior – Haja suor, viu! Contamos com muitos amigos para a realização disso, tivemos apoio total da FOGGY FILMES, minha produtora de vídeo, da FX RENDER, a produtora do Alex Batista, do Fusão ESTUDIOS, estúdio do Thiago. Fora todas as pessoas, amigos e agregados e nosso queridíssimo parceiro de sempre, Franz Bedacht! Por curiosidade: 128 horas de edição, 3 dias doentes, muitas noites sem dormir, muito café e muita paciência do meu sócio Rudge Campos. (risos)

Como o nome já diz (Música e Cinema), gostaríamos de saber quais as referências cinematográficas que poderiam representar o trabalho do Noturnall?

Fernando – Olha, eu talvez seja a pessoa menos indicada para falar de referências cinematográficas. Eu até brinco, pois já dei aulas de áudio em cursos superiores de cinema, mas o meu gosto para cinema é muito diferente e gosto muito de comédia e humor, tipo “sessão da tarde” mesmo, manja? (risos) Mas deixando o meu gosto pessoal de lado, acho que algo como “Hannibal” e “O Iluminado” traduziriam bem a complexidade e o teor de suspense de nossas músicas.

Junior – É difícil escolher, mas acho que alguns seriados se encontram nesse meio, como “The Walking Dead” e “American Horror Story”. No cinema, com certeza Stanley Kubrick e suas maluquices e um pouco do mundo nerd como bom metaleiro! 300 (vide clipe “No Turn at All”)

Para finalizar, deixe um recado para nossos leitores e fãs da banda:

Fernando – Nos vemos em breve e muito obrigado por lerem até o final! (risos) Espero que gostem das novidades que iremos preparar para vocês. Abraços.

Junior – Agradeço a oportunidade e espero voltar para falarmos mais de cinema também!

Grande abraço e muito rock ‘n’ roll!

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