Um dos maiores músicos da história do rock nacional, Arnaldo Baptista hoje está longe dos palcos. Seu foco atual é no mundo das artes plásticas, talento que desenvolveu após sofrer um grave acidente nos anos 80. Em sua carreira, destaque para as produções com Os Mutantes, além de uma exitosa carreira solo. Discos como “Lóki?” e “Singin’ Alone” são lembrados e cultuados pelos fãs.
Suas obras de arte estão expostas em Belo Horizonte, na galeria de artes Carminha Macedo, local que Arnaldo é presença constante. Em paralelo, lembra que não voltará a fazer shows enquanto não encontrar amplificadores valvulados. Em seu estúdio, segue produzindo canções.
Conversamos com Arnaldo Baptista sobre essa fase da sua carreira.
Entrevista – Arnaldo Baptista
Música e Cinema: Hoje você está dividido entre duas atividades. Você consegue relacionar a música e as artes plásticas?
Arnaldo Baptista: É uma coisa bem profunda, a relação entre música e artes plásticas. Eu nunca consegui encontrar algo muito importante que relacione as duas. São atividades bem diferentes.
Música e Cinema: E esse seu interesse pela pintura, começou na infância ou foi algo que se desenvolveu recentemente?
Arnaldo Baptista: Desde pequeno eu costumava colorir flores e coisas pequenas, mas nunca algo muito importante, como quadros. Isso começou quando eu estava no hospital, em período de reabilitação. Me deram materiais e eu comecei a pintar e fui me descobrindo dentro dos estilos, como cubisto, impressionismo, surrealismo.
Música e Cinema: Atualmente você está muito próximo das mostras que envolvem sua arte. Como está sendo este período?
Arnaldo Baptista: Eu acho que é muito importante. Eu sou mais conhecido na música, então este outro lado está se desenvolvendo melhor. Eu já havia feito mostras, mas não estava muito próximo. Agora tenho a exposição em BH e vou lá toda hora. Estou adorando!
Música e Cinema: Bandas como Cachorro Grande e O Terno, de gerações mais recentes do rock, sempre lhe citam como referência. O trio do O Terno até mesmo faz shows com sua obra. Como você vê esse reencontro com suas músicas?
Arnaldo Baptista: Eu acho muito importante, pois eu me sinto jovem de novo. É uma homenagem muito legal que essas bandas fazem, pois os discos são muito profundos, então essa compreensão é bem importante. E pra tocar ao vivo, também é um desafio, então vejo músicos profundos também. É bem gratificante.
Música e Cinema: Hoje, em que atividade você está mais confortável e é mais completo?
Arnaldo Baptista: Nas artes plásticas eu me sinto mais completo. Nas artes eu consigo fazer meus trabalhos, exposições e tudo mais. Na música, ainda estou sem amplificadores valvulados, então não consigo fazer shows.
Música e Cinema: Então é a falta de amplificadores valvulados que lhe afasta dos palcos?
Arnaldo Baptista: Sim, todas as bandas quando vão tocar, alugam equipamentos. Não existem empresas que alugam amplificadores valvulados. Se estivessem disponíveis, eu voltaria a fazer shows.
Música e Cinema: Mas mesmo não fazendo shows, você continua compondo e tendo contato diário com a música? Tem planos de lançar um novo disco?
Arnaldo Baptista: Eu estou gravando, esta parte está muito acelerada. Tenho equipamentos em casa. Tenho baixo Gibson, Bateria Ludwig, teclado Hammond. Estou levando isso a diante, com calma. Meu próximo LP é o “Esfera”. Eu já pintei a capa e daqui a pouco ele sai.
Música e Cinema: O cinema é algo que une música e muitas outras esferas da arte. Como é o seu contato com esse universo?
Arnaldo Baptista: Meu contato com o cinema é desconhecido do público, mas pessoalmente é enorme. Eu gravei minha viagem pelos Estados Unidos de motocicleta com uma câmera Super 8. Também gravei muitos shows, pena que esses filmes se perderam, mas eu tenho um interesse gigantesco por cinema.
Lembro quando estava em Las Vegas, que a noite as luzes eram tão fortes, que o fotômetro ficava no máximo, parecia que estava gravando com sol, de tantas luzes.
Música e Cinema: Você tem algum profissional ou filme favorito?
Arnaldo Baptista: Eu costumo assistir muitos filmes. Não tem uma pessoa específica que eu goste. Lembro muito do Polanski, gosto dos filmes dele. As pessoas não sabem muito disso, mas sempre que tenho a oportunidade, não deixo de assistir um filme.
Música e Cinema: E para o futuro, quais são seus principais planos?
Arnaldo Baptista: Meus planos são separados. Na música, o apogeu da minha carreira será quando eu fazer um show com amplificador valvulado, algo que não consegui até agora. Nas artes plásticas, quero produzir cada vez mais e aprimorar minha arte.
Ouça “Lóki?”, um dos principais trabalhos da carreira de Arnaldo Baptista, lançado em 1974. O disco foi relançado recentemente em uma edição especial.