Doente e perto da morte, astro do rock nacional gravou disco em italiano
Até hoje considerado por muitos um dos maiores compositores da música brasileira, Renato Russo, vocalista do Legião Urbana, foi uma das vítimas mais públicas da epidemia da AIDS nos anos 80 e 90. Entre o ano em que ele foi diagnosticado como portador do vírus do HIV, 1990, e sua morte aos 36 anos, em 1996, foi um dos períodos criativamente mais férteis de sua carreira, apesar da luta contra a doença, o alcoolismo e o vício em drogas.
Um ano antes de sua morte, ele lançou seu segundo disco solo: “Equilíbrio Distante”, gravado todo em italiano, com regravações de músicas famosas de artistas do país. A turnê do Legião “O Descobrimento do Brasil” teve que ser interrompida porque Renato teve uma recaída.
Seus amigos tentavam incentivá-lo a continuar trabalhando como uma forma de manter a sobriedade. “A ideia era mantê-lo sempre ocupado. Porque o que ele mais gostava era de fazer música e estar num estúdio gravando, fazendo um disco”, comentou o guitarrista Dado Villa-Lobos em entrevista para o livro “Renato Russo: O Trovador Solitário”.
“Equilíbrio Distante”
Renato era descendente de italianos, mas não sabia falar italiano. Para criar o álbum, ele viajou para a Itália para se conectar com suas raízes e conhecer mais a música pop do país. Mesmo sem ser fluente na língua, o vocalista do Legião gravou as 13 faixas em italiano, em um disco muito diferente do seu repertório na banda de rock.
O disco levou nove meses para ser gravado. Durante este período, o cantor estava passando por vários episódios de depressão, além de lidar com os sintomas do HIV. Framklim Garrido, engenheiro de som que trabalhou em vários discos do Legião Urbana, destacou em entrevista ao canal Corredor 5 que o trabalho do cantor no disco foi “impressionante” por causa das várias dificuldades que ele estava enfrentando na época.
O AZT, coquetel de remédios que Renato tomava para tratar o HIV, causava vários efeitos colaterais, e ele percebia mais o avanço dos sintomas provocados pela doença.
“Quando eu tomo o coquetel (de AZT e outros), é como se tivesse comendo um cachorro vivo. E o cachorro me come por dentro”, declarou Renato, segundo relatos de amigos publicados em uma matéria da VEJA após a morte do cantor. Alguns meses antes de morrer, Renato parou de tomar o AZT.
“Renato não era uma pessoa de se entregar, ele perdeu a guerra. O sistema imunológico ia embora com as emburacadas dele. Chegou um momento que não existiam mais células brancas para combater as infecções oportunistas”, comentou Villa-Lobos em “Renato Russo: o Trovador Solitário”.
Fonte: Igor Miranda e VEJA.
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