O início dos anos 2000 foi um marco no que diz respeito a filmes de super herói. De lá para cá foram lançados, ao todo, mais de 20 obras inspiradas em quadrinhos da Marvel ou DC Comics. Entre eles podemos destacar personagens como Batman, Homem de Ferro, Thor, Homem Aranha, Lanterna Verde, Superman, entre outros. Sem contar, claro, os longas de equipe como Os Vingadores e X Men. E com tantos projetos do mesmo gênero, em tão pouco tempo, alguns acabam parecendo um pouco repetitivos. Porém, esqueça tudo o que já foi feito em filmes desse gênero. Deadpool busca reinventar, fazer diferente e fugir daquilo que já está estabelecido no universo de quadrinhos nas telonas.
O filme conta a história de Wade Wilson (Ryan Reynolds), um ex militar e mercenário que tem um relacionamento com Vanessa (Morena Baccarin). Porém, ao ser diagnosticado com câncer terminal, ele vê em um experimento científico sua única chance de sobrevivência. Além de ser curado, ele ganha super poderes, tornando-se então Deadpool, e partindo em busca de sua amada e do homem que destruiu sua vida.
Os créditos iniciais de Deadpool já mostram o tom da trama, satirizando até mesmo os realizadores e protagonistas do projeto, destacando que em nenhum momento o filme se levará a sério. Portanto,o roteiro a todo instante busca ser irreverente e engraçado, encaixando várias piadas em pouco tempo, e a maioria funciona sem parecerem forçadas. Há deboche até sobre o próprio filme, como, por exemplo, nas piadas envolvendo o orçamento do projeto.
Vale destacar como a montagem contribui para ditar o tom do filme, contando a história de forma não linear, utilizando vários flashbacks. O que agiliza momentos que poderiam tornar o ritmo lento, principalmente em duas partes, primeiro na forma como mostram o avanço da relação de Wade e Vanessa através de suas relações sexuais durante o ano, e quando Deadpool começa a caçar pessoas para encontrar o vilão Ajax, tudo é mostrado de forma ágil, e sem perder tempo, mantendo o ritmo dinâmico.
Há constantes quebras de quarta parede que contribuem para que o público se apegue facilmente ao protagonista e imersem naquele universo. Outro ponto interessante é que o próprio Deadpool narra o que está sendo visto na tela, aliás, há um momento, por exemplo, onde ele diz para o público “estamos quase íntimos”, já que o mesmo já contou muito de sua história, o que torna o ritmo do filme agradável e leve de acompanhar.
Ainda que de forma sutil, o filme tenta estabelecer um esquema de cores interessante, onde podemos ver no vermelho a cor do protagonista (óbvio) e no azul a cor da tristeza. O longa já estabelece isso na primeira cena, onde, em um táxi, Deadpool observa dois panfletos, um azul e outro vermelho, e acaba escolhendo o vermelho (claro). Já quando Vanessa está sozinha caminhando e pensa que Wade está morto, ela usa um guarda chuva azul, o que transmite sua tristeza . E esse esquema de cores chega ao ápice, na belíssima cena, onde Wade entra em uma boate para falar com Vanessa, e ao vê-la é tomado pela cor vermelha em seu rosto, mas, quando desiste por pensar que ela não irá aceitá-lo, ele caminha em direção a uma forte cor azul que cobre seu corpo.
Além de ser divertido, o filme ainda fala muito sobre cinema, inclusive aborda o próprio longa na indústria, por exemplo no diálogo onde o melhor amigo de Wade fala que Deadpool daria um bom nome de franquia. Há ainda algumas referências divertidíssimas a filmes como 127 Horas, Alien 3, Blade 2 e vale destacar a incrível cena onde Wade diz que Lian Neeson não é um bom pai em Busca Implacável. O longa ainda brinca com os clichês de filmes de ação, representado nas brincadeiras que Deadpool faz com a personagem Anjo, interpretada por Gina Carano, que é ex-lutadora de UFC, então a presença dela em si já destaca isso. E por fim, o longa satiriza o próprio estúdio, onde é destacada a confusão da cronologia X Men no cinema, por exemplo, quando Wade pergunta se o Professor Xavier daquele momento é James Mcavoy ou Patrick Stewart. Sem contar as várias piadas envolvendo Hugh Jackman.
Mas o grande destaque está na atuação de Ryan Reynolds, que após fazer os horríveis X Men Origens: Wolverine e Lanterna Verde, se consagra nesse papel. O ator aqui se apresenta extremamente carismático, e instantaneamente conquista a admiração do público, muito por conta do seu timing cômico perfeito, sendo engraçado de forma natural, mas também pela sensibilidade que demonstra quando contracena com seu melhor amigo, com Vanessa, ou com a cega que o acolhe.
Deadpool é uma obra divertidíssima, que brinca com o próprio gênero e busca ter coragem de fazer diferente dos demais, apesar de cair em alguns dos próprios clichês que critica as vezes. E mesmo que nem todas as piadas funcionem, o filme é divertido, dinâmico, e se mostra um entretenimento extremamente eficiente. Mas, principalmente, ele reinventa os filmes de super herói.
Muito bom o texto, tem futuro o rapaz, parabéns.
Ótima crítica , só poderia ter vindo de uma pessoa extremamente inteligente e que sabe o que fala e faz , parabéns Fernando.