Da famosa família inglesa Coombes, Charly participou da banda Supergrass, formou o Charly Coombes and The New Breed e agora, morando no Brasil, aposta na carreira solo. Seu novo disco, com muitas referências ao país e ao momento conturbado que vivemos, terá show de estreia nesta quinta-feira, 27, no Breve, em São Paulo.
O disco, que tem a participação de músicos brasileiros, é recheado de referências aos anos 80, com destaque para as muitas camadas de sintetizadores utilizadas. Intitulado “Run”, o disco trata sobre o lado obscuro das pessoas.
“A sensação geral deste disco, tanto com letras quanto com as músicas, tem sido uma mistura de algo feio e algo doce. Isto é o que eu queria gravar, aquela combinação de algo moderno e fresco com os tons mais ásperos e nostálgicos dos anos 80. Os anos 80 tinham músicas e melodias incríveis, mas muitas vezes caiam vítimas dos avanços na produção. Eu me diverti muito fazendo isso!”, disse Coombes.
Acostumado com o ritmo inglês, Charly mora em São Paulo desde 2013. O último disco, Dark Moon, lançado em 2014, ainda tinha pouco tempo de convivência paulista. Em “Run”, o músico expressa muitas referências.
“Antes de São Paulo, morava em uma vila muito pequena e tranquila na Inglaterra. Fazer a mudança para São Paulo foi um choque para os sentidos. O caos, a confusão e o ruído de uma grande cidade contribuíram diretamente para um lado um pouco mais intenso e caótico da gravação. A primeira faixa, SPX, é especificamente sobre a minha adaptação a este novo ritmo de vida”, explicou Coombes.
Para o show de lançamento, nesta quinta-feira, 27, no Breve, o músico passou por processo intensivo de ensaios, devido a complexidade do novo material.
“Definitivamente, precisava de muitos ensaios. Eu pensei que ‘Black Moon’ era complexo e seria difícil de adaptar ao vivo, mas ‘Run’ leva isso ao extremo. Há momentos no disco com mais de 10 sintetizadores e sequenciadores em execução simultânea. A liberdade utilizada com a produção levou a um desafio extremo nos ensaios, mas está soando grande e estou realmente muito animado com o show. Em termos de minhas expectativas, eu só espero que as pessoas tenham uma ótima noite e apreciem a música”, afirmou o cantor.
Serviço – Charly Coombes lança Run
Local | Breve – Rua Clélia, 470
Data | 27.04
Horário | 19h (abertura da casa) – 21h (show)
Ingressos | R$15,00
Venda online | https://www.sympla.com.br/charly-coombes-no-breve__134850
Confira mais da entrevista com Charly Coombes:
O disco trabalha alguns temas negativos, como saúde, obsessão e dependência. Como mostrar elementos positivos dentro deste contexto?
Foi importante para mim, quando foquei nos lados mais escuros, mais negativos da humanidade neste disco para incluir também o potencial que todos temos. Com a escuridão há luz e com desespero há sempre esperança; Muitas das músicas lidam com esse equilíbrio. Por exemplo, a segunda faixa do álbum, ‘When Your Time Comes’, aponta para o medo humano da deterioração da saúde e da morte, mas o conceito do álbum brilha através desta canção “you need to run while you can when your time comes”. Trata-se de enfrentar esses obstáculos e desafios com esperança e fé. É o triunfo sobre a adversidade.
Em termos de referência sonora, quais foram suas principais inspirações? O que você ouviu durante o processo de produção?
O disco teve uma mudança dramática depois que eu vi ‘Stranger Things’ no ano passado. Antes disso eu tinha ficado obcecado com o conceito de mistura da nostalgia pop dos anos 80 com um som moderno, incluindo influências como The Cars, Ultravox e The Cure. Eu também tive “I Wanna Know What Love Is” (Foreigner) em constante repetição.
“Stranger Things” me lembrou de alguns dos incríveis trabalhos de trilhas sonoras de pessoas como John Carpenter e isso se tornou uma grande influência no disco, foi uma reação emocional – eu adoro esses sons e eles sempre trazem de volta boas lembranças.
Ao mesmo tempo eu estava ouvindo um monte de Tame Impala, Black Keys e MGMT, que ajudou a trazer o álbum para uma concepção moderna.
O disco tem uma participação de diferentes músicos experientes e consagrados. Qual é a importância destes profissionais na produção? O processo de criação foi construído junto ou você já tinha tudo planejado?
Foi muito natural mudar algumas das partes que eu tinha gravado. Um ótimo exemplo é o solo de sintetizador no final da canção “Darkroom”. Pedro Pelotas (Cachorro Grande), estava no estúdio para regravar um solo que eu já tinha tocado, mas é um tecladista fantástico e trouxe algo incrível e diferente para essa faixa.
Black Moon foi um álbum mais cru. Neste disco, você carrega muitos outros elementos. Isso foi um amadurecimento do seu trabalho?
O conceito de “Black Moon” era aquele desde o início. A ideia de uma trilha sonora viajando pelo espaço, os componentes orquestrais, algo pacífico e bonito. Com ‘Run’ havia muito mais liberdade para compor e produzir. Para mim, “Run” é um álbum bruto. Eu vejo ‘Black Moon’ como o irmão mais velho e mais sábio do tempestuoso e intenso “Run”.
Você trabalha também como videomaker. Essa experiência a fazer bagagem para criar um mostrar mais elementos visuais e um espetáculo mais completo?
O aspecto visual de qualquer show é muito importante para mim, eu sou sempre a pessoa que quer falar com o cara de iluminação e discutir ideias específicas para cada música. Com shows maiores, é possível ter coisas como projeções e uma experiência visual mais definida. Estou animado para deixar a música falar por si e manter o aspecto visual puro e simples. Também estou dando muita atenção nos vídeos dos próximos singles.
No disco anterior não estava no Brasil. Agora, que já é 3 anos, é possível afirmar que o cotidiano brasileiro a inspira musicalmente? O que a inspira da música nacional?
“Black Moon” foi sobre viagens incríveis e eu senti a influência da minha própria viagem para um novo país. “Run” trata muito da natureza humana, a mudança e os momentos desafiadores que todos temos, isso parece se encaixar bem com a adaptação a um novo ambiente. Mas agora eu posso sentir a influência da cultura e da música brasileira se tornando mais forte, então estou animado para ver onde o próximo disco vai me levar.
Eu tenho ouvido muita música brasileira há anos, descobrindo bandas e artistas incríveis como Chico Buarque, Rita Lee, Titãs e Caetano Veloso. Mas há também algumas coisas incríveis emergentes como Lumen Craft, Trem Fantasma e Mahmundi. Eu me sinto realmente sortudo por ter a chance de experimentar uma nova cultura musical.