Para quem aguardava o resultado de Animais Fantásticos e Onde Habitam como uma cópia da fórmula adotada pelos 8 filmes de Harry Potter, o sentimento deve ter sido de decepção. Estreando também como roteirista, J.K. Rowling consegue criar uma trama independente (o que também não apaga suas falhas pontuais).
O filme é ambientado setenta anos antes dos acontecimentos da franquia original. Longe da Inglaterra e no meio de Nova York, os protagonistas enfrentam um cenário tenso, de crise financeira, lei seca e sinais da grande depressão. Isso não influencia diretamente no filme, porém funciona muito bem para a ambientação, além de criar um belo fundo para as aventuras de Newt Scamander.
O bruxo acaba em território norte-americano para avançar seus estudos sobre animais fantásticos e para ajudar um amigo “da mala”. Ao ser percebido pela burocrática Porpentina Goldstein e envolver o trouxa (definido nos EUA como não-maj) Jacob Kowalski, uma verdadeira confusão é criada. Além da fuga de alguns animais, é preciso também entender como funcionam e de onde surgem os obscuros. Neste ponto Rowling acerta em cheio, aproveitando a caça as bruxas (com referência as bruxas de salem) e apresentando figuras mágicas reprimidas e extremamente poderosas, infelizmente, visualmente não tão interessantes.
Ao se envolver com Porpentina, Newt cria uma confronto de valores. Enquanto a americana é fiel seguidora das regras de seu ministério, o inglês se apresenta como uma espécie de ambientalista. Como estudioso dos animais fantásticos, defende sua preservação.
A figura da irmã de Porpentina, Queenie Goldstein, uma bruxa simpática e vidente, que tece uma relação próxima com o não-maj Jacob Kowalski, tem função clara de justificar os próximos filmes. Revelando situações do passado dos protagonistas, algo que provavelmente não aconteceria sem sua presença, a vidente é uma sacada interessante de Rowling, porém sem continuidade, se apresentando como teasers soltos de informações.
O grupo anti-bruxos funciona. Com estética sombria e ótima atuação de Ezra Miller como Credence, eles são ponto de equilíbrio importante. O Congresso Mágico dos Estados Unidos da América (Ministério da Magia de lá) aparece superficialmente, assim como Johnny Depp no papel de Gerardo Grindewald, um bruxo radical que luta pela “libertação” mágica e supressão dos direitos dos trouxas (não-majs).
Como resultado, um filme que funciona em duas frentes. A caça aos animais fugitivos e o embate contra a burocracia norte-americana e interesses obscuros de Grindwald.
Na direção, David Yates se apresenta muito bem novamente, mostrando que é uma das pessoas que melhor entende as criações de Rowling.
Animais Fantásticos e Onde Habitam funciona muito bem, sem seguir a fórmula de Harry Potter, sem ser um recheio de referências (Dumbledore é citado uma única vez) e com um trabalho visual incrível. Tem falhas de elenco e no roteiro, saindo do foco em muitos momentos, quando tenta criar lacunas para serem preenchidas nos próximos filmes. Em época de universos, Marvel e DC ganham um sólido concorrente cinematográfico.