Declarações polêmicas, problemas com ex-companheiros de Pink Floyd e outras questões fora da música estão tomando conta dos noticiários quando o assunto é Roger Waters. Neste contexto, muitos não estão dando a devida atenção para o que deveria ser o principal.
É inegável que Roger Waters sempre deixou claro que pretende entregar não apenas espetáculos musicais, agregando (e inovando) em muitos aspectos visuais. Mas é preciso alertar os fãs: o que os brasileiros estão encontrando nos estádios, na tour This Is Not a Drill, é um compilado de diversas músicas executadas em playback (lip sync).
Isso não é novidade. Roger Waters utiliza recursos deste tipo há décadas e isso pode ser observado em outras turnês que passaram pelo Brasil. Existem argumentos de todos os lados.
Os ferrenhos defensores de Waters argumentam que cantar músicas perto do tom original, aos 80 anos, pode ser uma grande dificuldade.
Os haters apontam que muitos colegas da mesma geração abominam práticas deste tipo (incluindo David Gilmour) e que não avisar o público pode ser classificado como propaganda enganosa.
Roger Waters usa playback?
A resposta é simples: sim! Roger Waters usa playback há décadas e continua usando na nova turnê. Se você assistiu a tour The Wall, lá também havia muito playback, assim como todos os shows seguintes.
Roger Waters usa playback em todas as músicas? Não. Algumas realmente são executadas ao vivo.
No show realizado na Arena da OAS, em Porto Alegre (01/11), é possível ver o microfone do cantor falhando durante a execução de Have a Cigar (aos 43 segundos do vídeo).
Um bom comparativo para ver o uso do playback é na apresentação de “The Happiest Days of Our Lives / Another Brick in the Wall Pts. 2 & 3”. No programa de Stephen Colbert, Waters realmente cantou durante a apresentação.
Mesmo com a diferença entre a qualidade do vídeo, é possível comparar com o show de Porto Alegre e suspeitar da utilização de uma dublagem do cantor.
Playback é caso antigo
Roger Waters já foi “pego” usando playback em diversas ocasiões. Dois exemplos estão em “Another Brick in The Wall” em 2021, show realizado em Meadowlands. Além disso, Don’t Leave me Now em 2010 (The Wall tour).
Mudanças durante a turnê
O início da turnê This Is Not a Drill parece ter funcionado como um laboratório. Há meses o show já está estável, com todo o cronograma sendo repetido, porém nas primeiras apresentações algumas músicas ainda eram executadas ao vivo por Waters.
Um bom exemplo está em “Shine on You Crazy Diamond”. A clássica música foi apresentada ao vivo no primeiro show da turnê, em 6 de julho de 2022, na cidade de Pittsburgh (Estados Unidos).
Na apresentação, a banda soa confusa com Waters em alguns momentos. Os vocais são nitidamente diferentes do que é apresentado no Brasil. Parte da apresentação no Rio de Janeiro pode mostrar a clara diferença no vocal de Roger Waters em comparação com o show de Pittsburg.
Em postagem recente, a esposa de David Gilmour chamou Waters de algo que pode ser traduzido como “dublador”, em referência a utilização de lip sync.
Existe certo ou errado?
A equipe do Música e Cinema esteve na apresentação realizada em Porto Alegre. Ao menos 50% do show é realizado com o auxílio de faixas gravadas por Waters. O músico realiza uma dublagem, Polly Samson foi precisa. Em diversas faixas, Roger não canta por cima de algo gravado, é apenas encenação mesmo.
Neste ponto, existem diversas interpretações, como já citado. Agora, alguns pontos devem ser levados em consideração:
- Os fãs foram para assistir playback ou acreditavam ser uma apresentação totalmente ao vivo?
- Isso ficou claro para quem foi ao show? A propaganda foi correta? A mídia divulgou isso?
É muito diferente do cenário pop. Boa parte de quem foi assistir Britney Spears, apenas como exemplo, sabia que ela não cantava ao vivo. Foram pela idolatria, pelas danças ou por qualquer outros motivo. Eles sabiam!
Isso não acontece no caso de Roger Waters. O público realmente acredita que tudo é executado ao vivo.
Com isso, podemos analisar a abertura do show para tentar entender mais um ponto. Antes do espetáculo começar, Waters avisa:
“Se você é um daqueles que diz: Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger’, você pode muito bem se retirar para o bar agora”
Esse ponto foi avisado: Roger Waters vai trazer sua opinião política e isso fará parte do show. Quem estava lá, sabia disso. Antes de comprar o ingresso, todos já sabiam a posição política do músico e o que encontrariam no estádio. Realmente não faz sentido ir na apresentação para vaiar ou reclamar, pois já era algo avisado e extremamente claro.
Mas, por que isso não acontece com a música? Um aviso semelhante poderia ser feito no mesmo estilo.
“Se você é um daqueles que diz: Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto o playback do Roger’, você pode muito bem se retirar para o bar agora”.
Certo ou errado, cada um pode ter sua opinião sobre isso. O fato é: não está claro o que acontece e Roger Waters não faz questão de deixar os fãs saberem que boa parte do show é dublagem.