O Música e Cinema teve a honra de entrevistar com exclusividade o músico e produtor Ikke Flesch, que nos falou sobre a sua carreira na música, desde a banda Gavetas no Telhado até a fase atual e também avaliou a cena musical brasileira, além de mostrar como é a realidade de um proprietário de bar de rock, algo difícil de se encontrar na maioria das cidades brasileiras.
Entrevista com Ikke Flesch
Ikke é natural de Novo Hamburgo (RS) e hoje mora em Bombinhas (SC), onde mantém o Magic Bus Pub, um local especializado em rock. Paralelamente, se apresenta, sempre contando com grandes parcerias, como os integrantes da grande banda Cachorro Grande.
Recentemente Ikke se apresentou juntamente com Rodolfo Krieger (Cachorro Grande) e também fez a abertura do show de Marcelo Gross em São Paulo. Ikke está se preparando para o lançamento de seu disco, com vocês, Ikke Flesch.
Leonardo Caprara: Primeiramente é um prazer Ikke, então, sabemos que hoje você trabalha em seu álbum, administra um bar de rock em SC, mas quando você começou mesmo na música?
Ikke: Grande prazer Leonardo! Acredito que tudo tenha começado quando eu estava ainda na barriga da minha mãe e ela resolveu comprar um violão. Ela não teve sucesso em aprender e eu acabei descobrindo esse violão aos meus 13 anos jogado num armário da nossa casa em Novo Hamburgo/RS, cidade que nasci. Dois anos depois eu estava montando meus primeiros projetos de banda e tocando pelos bares ao redor da região.
Leonardo Caprara: Hoje, como é conciliar lados tão distintos, sendo o artista por um lado e o contratante por outro lado?
Ikke: Na verdade não deveriam ser lados tão distintos assim não, o rock precisa da movimentação de todos, e onde todos ganhem com isso. E não estou falando de ganhar espaço, etc, a filosofia de que a banda tem que trazer público, equipamento e vender ingressos eu acho abominável, deveriam prender os proprietário que fazem esse tipo de coisa. Até mesmo essa de “tocar pela divulgação” as vezes compensa, mas deve ser bem avaliada. O músico tem que pagar no mínimo suas contas! Por mais nova que seja a banda ela precisa ser valorizada de alguma forma. O problema também está em os músicos aceitarem essas propostas medíocres e egoístas, acabam gastando dinheiro pra ir tocar e somente “aparecer” e no fim acabam prejudicando a qualidade. O proprietário de um bar que tem que ter em mente que se o som, desde o equipamento, for de qualidade, mais agradável será o ambiente para o músico, o cliente e a casa. Todos saem lucrando! E no nosso caso: o ROCK acontece! É, eu tomei um pouco prejuízo no começo pois eu super valorizava o cachê dos artistas e no fim tinha que pagar a luz no fim do mês. Mas no fim aprendi a dosar (hehe). A minha causa é o rock n roll, tanto como músico, proprietário, produtor, designer, programador, tudo anda junto! E quando tenho algum compromisso de show também tenho meus sócios que me substituem no bar.
Leonardo Caprara: Seu disco contará com participações de ícones como Rodolfo Krieger e Duda Machado. De onde surgiu essa ideia e o que podemos esperar do álbum?
Ikke: Conheço o Rodolfo desde 2009. Quando a Cachorro Grande estava lançando o disco “Cinema” eu fui contratado para desenvolver o site deles. Lembro que alguns bares depois o Rodolfo me disse: – É, fu*** Ikke, vamos ter que ser amigos! (hehehe) A pilha de seguir uma “carreira solo” usando o meu nome veio da “Cachorro” após eu fazer uma participação num show deles em um grande festival no Rio Grande do Sul. Estávamos na Van voltando pra Porto Alegre quando me “deram a pressão”. Na época eu ainda estava com minha antiga banda, os “Gavetas no Telhado”, mas pela distância de somente eu e o pianista estarem em Santa Catarina e o restante no RS, estava difícil a logística. No começo do ano passado quando decidi iniciar esse trabalho, o Rodolfo disse que o disco só sairia se fosse ele quem gravasse os baixos, e me apresentou o Duda que mostrou o estúdio dele, e no fim curtiu a levada dos sons e abraçou as bateras. Uma grande presença também nesse trabalho é o guitarrista Wagner Vallim (que tocou no Nervoso e os Calmantes e com a Erica Martins), grande amigo e muito talentoso, inclusive o som que abre o disco é composição dele. Bom, tendo uma cozinha como a do “Baião de Dois” (assim se denominaram Rodolfo e Duda durante as gravações) você pode esperar uma PORRADA COESA! Além disso conto com a participação de Rafa Godoi nos metais (que gravou trombone no mutantes em 2006), Eliezer Fagundes no pianos/hammond/rhodes (ex-Gavetas no Telhado), Pedro Pelotas (Cachorro Grande) no moog, e em uma música especial conto com a participação de Beto Bruno e de Marcelo Gross. Então, espere um disco de “rock paulera consciente bem dado na nuca”. Deve sair em abril, ainda estou negociando selo e prensagem. Algo deve sair na internet antes disso.
Leonardo Caprara: Como já citado, você tem a visão dos dois lados da indústria e sendo assim, como você enxerga o mercado musical brasileiro para o rock?
Ikke: Que mercado? hehe. A grande maioria do público são fãs de AC/DC e Guns ‘n Roses. Nada contra as bandas, inclusive gosto. Mas aí entra essas bandas covers que colocam a cuequinha do axel e as perucas do slash, animam a galerinha, e enchem uma casa. Não estou generalizando. O que estou querendo dizer é que o rock é informação, e o público rockeiro mesmo, que se informa e procura, é mínimo. Dificilmente um show com música autoral traz o mesmo público que um Beatles Cover, por exemplo. Sonho com o dia em que o “grande público” queira procurar músicas novas e bandas autorais. Aí sim poderemos dizer que existe uma cena de rock no Brasil. A maioria das casas só colocam bandas tributo pra tocar, pois garantem o faturamento. Não tenho como culpá-las pois quem criou essa decadência foram os próprios músicos e consequentemente o público. Isso se aplica em várias capitais do Brasil. Não acho que não deveria ter bandas tributo, tanto que eu de vez em quando contrato. Só acho que deve ter a dosagem certa na agenda dos bares entre bandas cover e autorais. O cover limita muita as pessoas a criarem, e deixarem aquela a verdadeira energia rock n roll fluir. Foi nessa energia que o rock nasceu. Sempre no “let it be”, “let it roll”, “let’s go”, etc.
Leonardo Caprara: Como funciona a administração de um bar de rock e quais as principais dificuldades?
Ikke: Se houver uma boa organização e divulgação, não sem tem muita dificuldade. A dificuldade que vejo no Magic Bus Pub em específico, é de convencer as pessoas que ainda não conhecem o bar a subirem o morro e ir pela primeira vez. Depois que sacam a energia por lá, elas têm a dificuldade de sair e não voltar no outro dia.
Leonardo Caprara: Na sua música, onde você busca inspirações?
Ikke: Não vou dizer que não tenho fortes influência dos Black Crowes, dos Faces, dos Stones e mais um monte bandas, mas o mais importante é assumir esta carga e deixar o som rolar naturalmente.
Leonardo Caprara: Qual a sensação de fazer a abertura do show de Marcelo Gross em um momento tão especial da carreira solo dele?
Ikke: Putz, eu fiquei muito feliz quando o Gross me convidou. Até então eu não tinha tocado em São Paulo com a banda. E foi sensacional! Energia pura! O Gross é um grande talento e um grande amigo! A maior surpresa da noite foi estar tocando e ver o Lobão alucinado com o som e chamando a galera pra frente do palco. Foi emocionante!
Leonardo Caprara: Além do lançamento do seu disco, quais seus principais objetivos para 2014?
Ikke: Meu foco é no meu disco, no bar e na minha família. Sim, alguns clipes e muitos shows!
Leonardo Caprara: Para finalizar, deixe um recado para os leitores do Música e Cinema:
Ikke: Tenham ao menos um filho na vida!
Essa foi a entrevista do Música e Cinema com Ikke Flesch. Não deixe de curtir a página oficial de Ikke no Facebook.