Through the Never é o novo lançamento envolvendo a banda Metallica, onde é narrada a história de um roadie da banda, que tem a missão de solucionar alguns problemas que envolvem os membros, em meio a isso, o telespectador pode ver também imagens da banda em ação, ou seja, um verdadeiro espetáculo do rock n’ roll.
Crítica Through the Never
Faço parte da geração que começou a gostar de heavy metal depois de assistir ao primeiro Rock in Rio, numa época em que não havia TV a cabo, tela plana e muito menos internet.
Eis que, quase trinta anos depois, numa quinta feira em que troquei a insônia pela TV, fico surpreendentemente empolgado, quase como uma criança, assistindo ao incrível show que o Metallica fez na mais recente edição do festival.
Foi nesse dia que fiquei sabendo que a banda lançaria um filme, a ser exibido nos cinemas com tecnologia 3D., que misturaria um show completo da banda captado com o que há de mais avançado em matéria de tecnologia com um conto de ficção envolvendo os bastidores do show. Já calejado pelas sacadas de marketing que acompanham a banda desde o álbum preto, imaginei que viria mais um caça-níqueis.
Errei. E feio.
Hoje assisti a “Through the Never”, e posso garantir que é difícil descrever a experiência. Eu havia perdido o próprio “Some Kind of Monster”, também do Metallica e o “Flight 666” do Iron Maiden, que só vi em DVD. Boicotei as exibições do Big 4 nas salas de cinema devido ao preço absurdo do ingresso. Então foi a primeira vez que vi metal de verdade na tela grande. E só quem é viciado no estilo pode imaginar como foi emocionante.
O filme mostra uma apresentação completa da banda, daquelas realizados em um ginásio em que o palco fica no meio do público. Só isso já é um espetáculo que impressiona e vale as imagens. O show é repleto de efeitos especiais que fogem do óbvio e compõem a atmosfera passada pela sonoridade e letras das músicas.
Sangue jorrando pelo palco em “Creeping Death”, túmulos que sobem em “Master of Puppets” e uma enorme estátua da justiça implodida em “…And Justice for All” já fazem pensar que estamos diante do maior espetáculo visual da história do thrash metal, estilo que a própria banda inventou e da qual é, inegavelmente, o maior nome da história, apesar dos Loads e St. Angers. Por sorte, o setlist não é contaminado com nenhuma música desses discos.
A escolha da lista de músicas beira a perfeição e emocionará qualquer fã das antigas. Desde a abertura com “Creeping Death” e “For Whom the Bell Tolls” até a conclusão com a inimaginável e surpreendente “Orion”, homenagem ao falecido baixista Cliff Burton. A única omissão imperdoável é a de “Fade to Black”, que casaria bem na cena em que o personagem fictício se afoga.
Ah sim, mas isso é um filme, não um show.
Como filme, “Through the Never” deixa muito a desejar. O roteiro é fraco. Trata das aventuras de um dos roadies da banda, que recebe a missão de partir em busca de alguma coisa inexplicada, que está fazendo falta no show mas está em um caminhão perdido pela cidade. Roteiro inverossímil, mal construído e calcado em diálogos primários. Existem cenas absolutamente constrangedoras, com a que mostra, logo no início, um fã chegando ao estacionamento do show, caracterizado com todos os estereótipos idiotizantes que a mídia costuma associar aos fãs de metal.
Por outro lado, a fotografia é perfeita, tanto nas cenas do palco quanto nas externas que focam o personagem fictício, aquele roadie aventureiro. Duas cenas se destacam em especial: um violento acidente de trânsito em câmera lenta ao som de “Ride the Lightining” (cuja inclusão no filme já deve garantir uma bufunfa para Dave Mustaine, um dos seus compositores); e uma cena em que a polícia tenta intimidar manifestantes batendo cacetetes nos escudos, no ritmo da introdução de “Wherever I May Roam”, que infelizmente não é tocada inteira, cedendo espaço para “Cyanide”, do último e chato álbum de estúdio “Death Magnetic”.
Como entretenimento o filme vai bem, em especial para quem for fã da banda, conseguir se divertir com um show de metal, souber apreciar o casamento entre as imagens, a fotografia e o áudio e, principalmente, não estiver muito preocupado com a história ou o roteiro.
A mixagem de som supera qualquer álbum e mereceria um Oscar ou um Grammy. Já a performance dos músicos nos faz lembrar que estamos assistindo a um filme sem qualquer compromisso com a realidade. Quem acompanha a banda sabe que é simplesmente impossível que Lars Ulrich e Kirk Hammet não tenham cometido nenhum erro grotesco durante todo o show. E só mesmo numa obra de ficção poderíamos ver um show do Metallica sem que James Hetfield diga “yeah” algumas dezenas de vezes.
Espero que esse filme seja só o primeiro de um novo gênero, que se torne comum exibir espetáculos musicais nos cinemas em tecnologia 3D, o que acrescentou muito mais ao show do que aos filmes “normais”. As tomadas em terceira dimensão te jogam para dentro do palco e do público. É impressionante sentir a profundidade visual da bateria. Nas tomadas em que se focaliza a plateia, o 3D torna a experiência tão real que cheguei a sentir falta do cheiro da multidão. Talvez estejamos diante de um novo tipo de produto de mídia, que mescla imagens bem captadas, figuras visuais imaginativas e música pesada de extrema qualidade.
Só por isso temos que agradecer, mais uma vez, ao Metallica.
Ótima resenha escrita por um profundo conhecedor do assunto. Parabens!
Parabéns pela resenha! Não sou fã do Metallica, mas eu gosto de metal. Ainda não assisti o filme, mas deu vontade lendo sua resenha.
… Sim, faltava um filme para marcar a tragetória do maravilhoso Metallica! E com os detalhes dessa resenha… Haha empolgadíssima para ver!!!