Scarlett Johansson, Jonathan Bailey, efeitos visuais de ponta e dinossauros gigantes em ação. A receita, à primeira vista, parece infalível. Mas em “Jurassic World: Recomeço”, sétimo longa da franquia iniciada em 1993, o que se vê é um espetáculo que tropeça no próprio peso.
A crítica da BBC Culture, assinada por Caryn James, aponta o novo filme como um sério candidato ao posto de pior da saga.
Um retorno que soa excessivamente familiar
Lançado como uma tentativa de revitalizar a franquia, “Recomeço” não passa de uma reconfiguração tímida de uma fórmula já explorada à exaustão: um grupo de humanos presos em uma ilha, tentando sobreviver ao ataque de dinossauros.
A estrutura narrativa segue à risca os moldes estabelecidos por Steven Spielberg no clássico original, mas carece da inovação e do impacto que fizeram daquele filme um marco do cinema.
Apesar do investimento em novos personagens e efeitos mais sofisticados, o roteiro repete velhos truques e evita riscos.
Scarlett Johansson, como Zora Bennett, e Jonathan Bailey, no papel do paleontólogo Henry Loomis, lideram a trama principal, mas seus arcos são ofuscados por um subplot envolvendo uma família em perigo – recurso já desgastado e previsível dentro da própria franquia.
Um espetáculo visual que não emociona
Não faltam criaturas colossais, paisagens exuberantes e cenas de ação coreografadas com precisão. O design dos dinossauros é um dos pontos altos do filme, com destaque para o titanossauro e o quetzalcoatlus, que figuram entre os monstros mais impressionantes já criados na saga. Ainda assim, a emoção parece diluída.
A crítica da BBC ressalta que o diretor Gareth Edwards (conhecido por “Rogue One”) falha em criar uma tensão envolvente. As sequências de perigo envolvendo os protagonistas carecem de real ameaça — o público sabe que estrelas como Johansson não serão devoradas.
Já a família secundária, que inclui Reuben (Manuel Garcia-Rulfo) e suas filhas, assume os momentos mais intensos, ainda que paralelos ao conflito principal.
Humor deslocado e clichês enfadonhos
Além da ausência de emoção genuína, o filme escorrega em tentativas de humor mal encaixado — como cenas em que o personagem de Bailey mastiga chicletes de maneira forçada.
Os diálogos não oferecem profundidade e os clichês, como personagens pendurados em penhascos ou fugindo de dinossauros na floresta, se acumulam sem trazer algo realmente novo.
Mesmo a trilha sonora, que resgata o icônico tema de John Williams, usada com sutileza pelo compositor Alexandre Desplat, não é suficiente para resgatar o senso de maravilhamento que marcou o longa original.
Spielberg consultado, mas ausente
Edwards revelou que Steven Spielberg foi consultado durante o desenvolvimento do roteiro e “acompanhou de perto” a produção.
No entanto, como destaca a crítica, estar por trás das câmeras é muito diferente de estar no comando. E esse distanciamento é sentido em cada cena.
Enquanto o primeiro “Jurassic Park” revolucionou o cinema e consolidou uma legião de fãs, os capítulos seguintes oscilaram em qualidade, e “Recomeço” parece mais um passo em direção ao desgaste da fórmula.
Um possível fim de ciclo?
A própria narrativa do filme sugere que, no universo fictício, o interesse por dinossauros diminuiu ao longo dos anos. Fora da tela, essa previsão pode estar se concretizando.
Com “Recomeço”, a franquia não apenas se mostra cansada, como também incapaz de se reinventar.
Se houver um próximo passo, será preciso ousar de verdade — ou talvez aceitar que o tempo dos dinossauros nas telonas está se esgotando.