Após muito esforço conseguimos uma entrevista exclusiva com a banda Plebe Rude, ícone nacional da luta contra a opressão e censura.
A banda Plebe Rude parte da turma da colina, que era formada por nada mais, nada menos que Os Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Legião Urbana, todas grandes bandas que marcaram uma geração.
A Plebe Rude sempre chamou a atenção por não ter medo de falar a verdade, chegando a serem presos na época de ditadura militar, mas nunca abrindo mão de falar mal sobre tudo que estava errado com o momento político vivido no Brasil.
Entrevista com a banda Plebe Rude (Philippe Seabra)
Qual é o sentimento de ter feitoparte de um dos maiores movimentos musicais da história, que foi o rock Brasília, a turma da colina?
– As vezes é um pouco estranho. Tem livros e filmes a respeito… Existem teses e monografias a respeito… Tudo que saiu de um bando de adolescentes revoltados com amorosidade de Brasília, porem definitivamente influenciados pela proximidade da repressão. Musicas que foram censuradas virando, depois da abertura democrática, é claro, sucesso nacional. Fico feliz que a Plebe ainda é respeitada por não abrir mão dos seus princípios. Caminho certamente mais difícil, mas coerência é a coisa mais importante para a gente.
Vocês sofreram muito com a censura no começo da carreira?
– Bastante. A nossa realidade em Brasília era mandar músicas para a censura, até para fazer show em lanchonete. Não tem como isso não afetar a temática abordada. É claro que as mais “subversivas” não eram mandadas, mas isso tudo faz parte de um triste capítulo na historia brasileira. A música “Censura” inclusive foi censurada no disco “Nunca Fomos tão Brasileiros” em 1987, mas eventualmente foi liberada e virou sucesso. A única aparição nossa que existe no Chacrinha (inúmeras fitas do Chacrinha foram apagadas) estamos tocando Censura. Vai entender…
“Hora pra dormir, hora pra pensar
Porra meu papai, deixa me falar
Unidade repressora oficial
A censura, única entidade que ninguém censura
Contra a nossa arte está a censura
abaixo a postura, viva a ditadura
Jardel com travesti, censor com bisturi
corta toda música que você não vão ouvir
Nada para ouvir, nada para ler
nada no cinema, nada na TV
nada para mim, nada pra você
Unidade repressora oficial
(risos)Lembra, estava com 16 anos. Que maneira de passar a adolescência…
Estando em Brasília, é mais fácil falar de um assunto tão quente que é apolítica e a situação brasileira?
– Sim. Não tem jeito, estamos aqui do lado. Mas no nosso caso parece que o rock de Brasília conseguiu abordar esses temas de uma maneira mais palpável, e imagino que por isso, o movimento fechou com o resto do Brasil. As músicas continuam assustadoramente atuais. E depois da censura recente ao Estado de São Paulo, até a música “Censura” voltou para o nosso repertório. A frase “Jardel com travesti, censor com bisturi” se refere a uma cena censura do Jardel Filho no filme “Rio Babilônia”. Agora cantamos “Sarney com bisturi”…
Havia alguma rivalidade entre as bandas de Brasília?
– Sim, mas sempre tocávamos juntos. Isso aparece muito no filme “Rock Brasília”. Era aquela coisa de adolescente de sempre querer impressionar os amigos, e sempre fazer melhor que a banda anterior. No nosso caso era fácil. Capital tinha o look, Legião tinha o letrista mas a Plebe tinha a pegada (risos).
Qual a importância do Paralamas e Herbert na historia da Plebe Rude?
– O Herbert levou a demo da Plebe para a EMI e produziu três dos nossos discos. Por tersido de Brasília durante uma época, ele entendeu como ninguém a postura e estética da banda.
Agora com o ano novo, quais os projetos da Plebe Rude?
– Eu e o André X recebemos o título de cidadão honorário de Brasília (do mesmo governo que criticamos tanto), O DVD “Rachando Concreto” de 30 anos foi lançado, o “Concreto já Rachou” fez 25 anos e foi finalmente relançado, dentro do box set do filme “Rock Brasília”, o próprio filme estreou, o filme “Somos tão jovens” foi rodado em Brasília (com participação nossa com atores fazendo nosso papel e com participação minha fazendo uma ponta- estreia em julho) e o CD do DVD “Rachando Concreto foi indicado a um Grammy. O ano de 2013 esta cheio de novidades para a gente, entre outras coisas, um disco novo de inéditas e provavelmente a gravação de um outro DVD, bem mais grandioso que o “Rachando Concreto”. Aguardem…
Qual a sensação de ser indicado ao The Latin Recording Academy como o melhor álbum brasileiro?
– Foi muito inusitado. Mas muito bem vindo. Isso foi um reconhecimento a uma banda que nunca abaixou a cabeça para o mercado. Vale a pena ter princípios.
Quando não estão tocando ou envolvidos com a banda, quais seus principais hobbies?
– Sou produtor musical e produzo inúmeras bandas, e consequentemente tenho um estúdio enorme cheio de guloseimas. Mas não sei se posso considerar isso um hobby…hmmmm… Estudo francês, gosto de literatura inglesa e adora os mestres de ficção científica como Clarke, Asimov e Bradbury. Mas ultimamente tenho trocado mais fraldas do que qualquer outra coisa pois meu primeiro filho.
Para finalizar, deixe um recado para os leitores do Música e Cinema:
– Queria agradecer o espaço.
O Música e Cinema fica orgulhoso com mais essa entrevista, aproveite e confira a entrevista com o guitarrista do Guns N’ Roses, Ron “Bumblefoot” Thal.