É curioso que um dos sons mais agoniantes seja o do silêncio. Simon & Garfunkel já cantavam sobre isso na música “The Sound Of Silence”, em 1964. Facilmente essa canção poderia elencar algumas das questões tratadas no novo filme do já afirmado diretor Denis Villeneuve.
A Chegada transporta o público para questões profundas sobre como a humanidade pode ficar muda ao diferente, sobre como o desconhecido pode chocar e assustar. Os alienígenas poderiam ser substituídos, o contexto poderia ser diferente, mas a condução, ela sim, provavelmente, não mudaria.
Abalada com a morte da filha, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), especialista em linguística, é convocada pelo exército norte-americano para ajudar na interpretação de uma língua desconhecida: a dos alienígenas que pousaram na terra.
Por todo o globo, de maneira aleatória, 12 naves se aproximaram. Em momentos pontuais, os visitantes permitem a entrada dos humanos e tentam desenvolver alguma forma de comunicação. Contanto com a ajuda do cientista Ian Donnelly (Jeremy Renner) e tentando contornar as preocupações bélicas do exército, representado pelo Coronel Weber (Forest Whitaker) e agente Halpern (Michael Stuhlbarg), Dra. Banks precisa estabelecer modelos de diálogos e enfrentar seus próprios fantasmas.
A apresentação dos visitantes, a comunicação por logogramas e as cenas inteligentemente orquestradas, fazem com que o filme prenda a atenção. A todo instante você capta referências e tenta encontrar explicações e significados (bem como os personagens do filme).
Stanley Kubrick já havia trabalhado brilhantemente o silêncio, as perguntas sem respostas e o espaço para a reflexão (com devido respeito as proporções e sem comparações com A Chegada). Com o passar do filme, é possível notar que ele fala mais sobre os humanos, sobre a maneira debilitada que nos comunicamos e como pequenas divergências e erros de interpretações podem fazer com que os conflitos surjam.
E para que tudo isso funcione bem, a escolha de Amy Adams parece ter sido a mais adequada. O seu talento é reconhecido, mesmo que por muitas vezes, seus papéis não sejam os mais adequados. Ela trabalha muito bem a construção da personagem, sua coragem, fragilidade e poder de superação. Passa por ela a responsabilidade de ser um dos grandes alicerces do filme.
Denis Villeneuve mostra que não é mais um diretor emergente – já é uma realidade. Enquanto muitos esperam seu desempenho em Blade Runner 2049, ele se mostra muito maduro em A Chegada. Acompanhado de ótimo trabalho de fotografia, com cenas nebulosas e sombria, o diretor consegue criar ótimas sequências e trabalha boas cenas, principalmente em momentos delicados durante as visitas a nave (que facilmente poderiam destoar do resto do filme).
O filme tem algumas falhas pontuais, que não apagam seu brilhantismo. Em certos momentos, o excesso de teasers para a conclusão da história, a falta de profundidade de alguns personagens e as movimentações não condizentes com o tamanho e gravidade do momento (principalmente dos militares), acabam irritando. Falhas aceitáveis de um roteiro deste porte.