Com muito rigor! Lobão faz seu melhor e mais profundo disco

Toda a empolgação de Lobão com seu novo disco foi justificável com o lançamento de “O Rigor e a Misericórdia”. O trabalho começou com uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo, em que um valor acima do proposto inicialmente foi alcançado.

Durante o ano, em shows solo (voz e violão) e com o power trio, já mostrava um pouco do trabalho, adaptando as canções e instigando os mais curiosos.

No disco, as canções vieram encorpadas, utilizando muitas dobras de guitarra, sintetizadores e a sempre marcante linha de bateria do músico, que tem no instrumento a sua base. Para quem falava que o disco era uma “revolta política”, a resposta veio musicalmente, com um trabalho profundo, não datado para uma situação específica e longe de temáticas exclusivamente políticas.

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O disco

A abertura fica por conta de Overture, que surgiu em um exercício de arpejos para a mão esquerda, tendo como resultado algo que Lobão define com referências barrocas e progressivas. Os Vulneráveis vem com um riff forte de guitarra, lembrando grandes linhas setentistas do gênero, enquanto a música seguinte, A Marcha dos Infames, inicia com Lobão mostrando seu talento na bateria, combinando bela letra com uma “cama” de sintetizadores.

Assim Sangra a Mata foi inspirada nas aventuras do músico na Amazônia durante o programa A Liga, que foi descrita no livro “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”. Uma bela música com ótimas composições de viola. Seguindo a linha acústica, algo que Lobão utilizou muito pelos constantes apagões em São Paulo, que abriam espaço criativo para este modelo, “O Que es la Soledad en Sermos Nosotros” faz um mergulho existencial sobre a solidão, em espanhol.

A música “Alguma Coisa Qualquer” foi composta para Cássia Eller nos anos 90, porém não foi gravada pela cantora. Lobão tentou encaixá-la nos últimos álbuns, porém ainda não tinha encontrado o arranjo ideal, algo que achou adequado em “O Rigor e a Misericórdia”.

Lobão fez todo trabalho no seu próprio estúdio, tocando todos os instrumentos.
Lobão fez todo trabalho no seu próprio estúdio, tocando todos os instrumentos.

A faixa “Dilacerar” apresenta o groove mais bacana do disco, sendo uma ótima escolha para o “miolo” do álbum, não deixando o ritmo quebrar e abrindo espaço para “Os Últimos Farrapos da Liberdade”, mais uma bela letra de Lobão, com um refrão muito agradável.

Uma das faixas que pode ser apontado como crítica política é “A Posse dos Impostores”, que inicia com bases dantescas de teclado e segue ritmada pela forte bateria e o muito bem tocado baixo. Trata-se de uma faixa com ótimo emprego de recursos vocais, de um expressionismo único.

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O disco segue com as belas “Ação Fantasmagórica a Distância” (música que Lobão definiu como um reencontro espiritual com seu pai), “Profunda e Deslumbrante Como o Sol” e “Uma Ilha na Lua”. Finalizando magistralmente, Lobão apresenta a faixa-título, que é uma das, se não a melhor, composições de sua carreira. “O Rigor e a Misericórdia” é o resultado do rigor e dedicação neste trabalho.

Livro – Em Busca do Rigor e da Misericórdia

Além do belo trabalho musical, Lobão acompanhou a produção com o livro, que narra todo o processo criativo das canções, além de destacar algumas questões importantes sobre a convivência na atual conjuntura política do Brasil. Em um dos capítulos, homenagem para o filósofo Olavo de Carvalho.

Capa do livro
Capa do livro

Spotify – O Rigor e a Misericórdia

1 comentário
  1. Avatar de Gaucho
    Gaucho Diz

    Ótimo disco! Só esqueceu de falar da música “A Esperança é a Praia de um Outro Mar” que na minha opinião é a mais emocionante do disco todo, pelos backing vocals, o excelente solo do convidado e a história da música em si que é contada por Lobão em entrevistas.

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